Cerâmica marajoara é destaque em exposição de artes em Nova Iorque, nos EUA

Mostra coletiva ‘Deep Marajó’ segue em cartaz até dia 13, e destaca a diversidade do artesanato desenvolvido há mais de três mil anos por grupos indígenas do Marajó (PA), o maior arquipélago flúvio-marítimo do mundo. A tradicional cerâmica marajoara é destaque em exposição na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Até 13 de maio, o público pode conferir as obras de três coletivos de artistas paraenses na mostra “Deep Marajó: Contemporary Marajoara Ceramics no Americas Society (AS)”.
As obras dialogam com as técnicas tradicionais de cerâmica encontradas no arquipélago de Marajó – o maior arquipélago flúvio-marítimo do mundo, praticadas há mais de três mil anos por grupos indígenas, abordando mitos amazônicos e histórias orais das diferentes comunidades que vivem na região, e outras recriam peças arqueológicas na tentativa de preservar as tradições artístico-culturais da região.
A exposição está em cartaz no prédio da Americas Society, que é o principal fórum que se dedica à educação, debate e diálogo nas Américas, e tem como um dos objetivos mais importantes dar mais valorização para a herança cultural diversificada das Américas. O evento, realizado em parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) – a mais importante instituição de pesquisa de fauna e flora da Amazônia.
“A exposição coloca em evidência a diversidade das artes marajoaras e a potência dos artistas que vivem e interagem com o arquipélago marajoara. Além de mostrar para Nova Iorque sobre a cultura marajoara e amazônica, que ainda é muito pouco conhecida por eles”, destaca Helena Pinto, pesquisadora titular na área de Arqueologia do Museu Goeldi e uma das responsáveis pela exposição.
Integram a mostra os coletivos “Arte Mangue Marajó”, “Mãos Caruanas” e “Replicando o Passado”. Além disso, também são exibidas fotografias da artista e pesquisadora Anita Ekman, cuja obra tem por temática o povo marajoara.
“Queremos passar a ideia de diversidade, e mostrar as raízes profundas que as artes marajoaras têm desde os primórdios da ocupação do arquipélago”, destaca Helena.
“Mas, o mais importante é enfatizar que esta arte, milenar, está muito viva nas mãos dos artistas locais. Trazemos réplicas, leituras e releituras contemporâneas da cerâmica arqueológica marajoara, e também criações escultóricas sensíveis inspiradas na relação que as pessoas possuem com os mangues”, pontua Helena, que é a curadora da Coleção Arqueológica do Goeldi e coordena o projeto “Replicando o Passado”.
Fotografia da floresta
A mostra também exibe fotografias da artista e pesquisadora Anita Ekman, cuja obra tem por temática o povo marajoara. Fotógrafa e pesquisadora, que, através do trabalho fotográfico e de vídeo, identifica povos indígenas como protagonistas históricos, aliados aos membros da diáspora africana na Amazônia e na Mata Atlântica.
Sua pesquisa nos campos da arqueologia e da escravidão indígena e africana na Amazônia e na Mata Atlântica (refletida em suas obras) foi reconhecida por instituições como Harvard, Tufts e Indiana University por seu pioneirismo.
Em suas fotografias, Ekman interage com objetos cerâmicos arqueológicos marajoaras dos acervos de museus (MPEG e também o Museu Etnológico de Berlim). Justapondo o corpo feminino com esses objetos, a artista cria uma ligação entre o passado e o presente, dando destaque para o papel da forma feminina e funções biológicas como gravidez e amamentação nessas esculturas antigas.
Conheça os coletivos
Replicando o Passado
Iniciado em 2017, o projeto estimula a pesquisa e produção das cerâmicas feitas por artesãos da comunidade oleira de Icoaraci (Belém/PA), preservando as tradições artísticas da região. São reproduções de peças que fazem parte da Coleção Arqueológica do MPEG, portanto os artesãos participantes estão envolvidos na divulgação da herança e diversidade de povos originários que há milênios viveram na Região Amazônica. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Coleção Arqueológica do Museu Goeldi reúne cerca de 120 mil objetos e 2 milhões de fragmentos procedentes de diversas regiões da Amazônia, mostrando as características das tradições ceramistas ao longo do tempo e em diferentes territórios.
Além de socializar o acervo do Museu Goeldi, o projeto “Replicando” também contribui para ampliar a visibilidade do trabalho dos ceramistas de Icoaraci, polo que possui uma tradição artístico-cultural conhecida pela referência às artes indígenas amazônicas na região.
Arte Mangue Marajó
É um ateliê situado na principal cidade do arquipélago marajoara – Soure – e que funciona como um espaço coletivo no qual ceramistas têm a oportunidade de pesquisar e experimentar as técnicas tradicionais das artes cerâmicas da região. Fundado pelos artistas Ronaldo Guedes e Cilene Andrade, o ateliê Arte Mangue Marajó está localizado no bairro Pacoval (Soure – PA), onde oficinas realizam também um papel educativo de disseminar a produção artística marajoara e assim trazer à tona a cultura e história da região para uma comunidade com pouco acesso a essas informações.
Mãos Caruanas
Também localizado na cidade de Soure, no Marajó, é um projeto criado pela educadora Josie Lima com o objetivo de propagar tanto a história quanto as práticas artesanais de comunidades indígenas que viveram na região por meio da cerâmica marajoara. Atualmente, o projeto já se expandiu e atua também em diversas escolas locais, ensinando técnicas para crianças e professores.

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