Segundo Comissão Pastoral da Terra, vítimas seriam duas mulheres e um homem e ataque teria ocorrido após protesto. Empresa alega que foi invadida e teve equipamentos incendiados. Indígenas são baleados em Tomé-Açu, no Pará.
Divulgação/Fepipa
Um dos três indígenas da etnia Tembé baleados em conflito no Pará foi detido pela Polícia Militar, logo após sair do hospital, na segunda-feira (7) . Ele foi preso quando estava a caminho da delegacia de Tomé-Açú para registrar boletim de ocorrência e foi liberado após a chegada de comitiva, que incluía a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH), em visita na cidade. Um vigilante que seria autor de disparo que feriu um indígena na sexta também foi preso
A Comissão Nacional de Direitos Humanos reuniu com autoridades em Belém, na manhã desta terça-feira (8), para discutir o caso. Os detalhes sobre o encontro não foram divulgados. De acordo com a Segup, o policiamento na área do conflito foi reforçado e as Polícias Civil e Militar estão em diligências para esclarecer os fatos, instaurar inquéritos e identificar envolvidos no caso.
A justificativa para prender o indígena foi dano a patrimônio particular de empresa exploradora de óleo de palma. No conflito, carros da empresa foram incendiados. Os seguranças usaram armas de fogo e também de menor letalidade para dispersar os indígenas, segundo os advogados da comunidade.
O conflito no nordeste do Pará é chamado por pesquisadores como “guerra do dendê”, que envolve disputas de terra entre empresas de exploração de óleo de palma e comunidades indígenas e quilombolas.
A nova tensão começou na sexta-feira (4), quando um jovem de 19 anos foi baleado na área de conflito com seguranças privados da empresa Brasil BioFuels (BBF). O empreendimento, aponta que tem suas terras constantemente invadidas e alvo de depredações pelos indígenas – veja ao final posicionamento da empresa.
Segundo a empresa, equipamentos foram incendiados por indígenas.
Reprodução
Indígenas feridos
Na segunda (7), um protesto dos indígenas da etnia Tembé, que vivem nas áreas cercadas pelas fazendas da BBF, onde há plantações de dendezais, foi marcado pelo tiroteio, mesmo com a Polícia Militar realizando rondas na região.
Três indígenas foram atingidos no tiroteio – entre eles, uma mulher que ficou gravemente ferida na garganta. Ela foi encaminhada para Belém, onde deve passa por cirurgia na tarde desta terça-feira. O estado de saúde dela é estável, segundo familiares. Outra mulher foi atingida na coxa e já recebeu alta.
O indígena atingido nas costas recebeu alta também na segunda-feira. Ao deixar o hospital, em Tomé-Açu, ele estava indo até a delegacia de Tomé-Açu para registrar boletim de ocorrência, quando recebeu voz de prisão de policiais militares, apontando flagrante por dano a material particular. Ele foi levado para a Delegacia de Castanhal.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) não citou a prisão do indígena pelos policiais militares, mas disse que “apesar do caso ter ocorrido dentro de uma propriedade particular, está tomando as providências, dentro das atribuições do Estado, para esclarecer as circunstâncias do ocorrido”.
O tiroteio que atingiu os indígenas, e a prisão de um deles, gerou m protesto na PA-140, que chegou a ser interditada na segunda-feira.
Rodovia no Pará foi interditada em protesto contra ataque a tiros a indígenas
Virgínia Berriel
Sobre o episódio de sexta-feira, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) disse que o vigilante identificado como autor do disparo foi apresentado na segunda-feira (7), na Superintendência de Polícia Civil de Castanhal e encaminhado ao sistema penitenciário.
Os indígenas dizem ter sido baleados após realizarem um protesto cobrando agilidade nas investigações após um jovem Tembé ser baleado dentro da aldeia Bananal, na última sexta-feira (4).
Em nota, a empresa mencionada pelos indígenas como responsável pelos disparos alega que seguranças reagiram à invasão com equipamentos incendiados e edificações destruídas.
“O Grupo BBF (Brasil BioFuels) esclarece que o Polo de Tomé-Açu, propriedade privada da empresa composto pela Agrovila, Administração Geral e Áreas de Infraestrutura, foi novamente invadido e teve equipamentos incendiados e edificações destruídas”.
Ainda segundo a empresa, “na ação, cerca de 30 invasores armados ameaçaram e agrediram trabalhadores da empresa no local, antes de incendiar dezenas de tratores, maquinários agrícolas e edificações da empresa. Em defesa, a equipe de segurança privada da Companhia conseguiu conter a ação criminosa dos invasores e resguardar a vida dos trabalhadores que estavam no local”.
A empresa não especificou quantos equipamentos teriam sido destruídos e diz que “já tomou as medidas jurídicas cabíveis junto ao poder judiciário”.
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