Naufrágio que matou 23 no Pará completa um ano e população busca respostas: ‘onde está a lancha?’

Reportagens vão relembrar o caso e mostrar indignação da população, que espera respostas efetivas da Justiça e melhorias nas condições do transporte fluvial, o qual dependem para se locomover. Cortejo durante enterro de vítimas do naufrágio.
Reprodução / TV Liberal
O naufrágio que matou 23 pessoas próximo a Cotijuba, ilha de Belém, completou um ano nesta sexta-feira (8). Sobreviventes, familiares e amigos seguem cobrando respostas. Enquanto isso, o comandante da embarcação Dona Lourdes II, Marcos Oliveira, segue em liberdade.
Além disso, a empresa responsável pela lancha realizou o procedimento de reflutuação sem autorização da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental (CPAOR) no dia 17 de fevereiro deste ano. Até o momento ela não foi encontrada.
Naufrágrio em Cotijuba: Marinha confirmou que reflutuação da embarcação Dona Lourdes II foi feita, porém sem autorização da Capitania dos Portos
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No dia 8 de setembro, a lancha saiu de um porto clandestino em Cachoeira do Arari, no Marajó, no dia oito de setembro de 2022, com destino a capital Belém. Entre os 23 mortos estavam mulheres, homens e crianças.
A Agência de Regulação e Controle de Serviços Públicos do Estado do Pará (Arcon-PA) confirmou que a Dona Lourdes II não tinha autorização para operar no Terminal Hidroviário da Foz do Rio Camará, de onde embarcações regulares partem do Marajó.
Reportagens vão contar sobre o naufrágio da Dona Lourdes II com depoimentos e relatos.
Um ano após o naufrágio, a TV Liberal realizou duas reportagens especiais que não apenas relembram o caso, mas mostram a indignação da população que precisa usar este meio de transporte para se locomover, todos os dias.
As reportagens serão exibidas nas próximas segunda (11) e terça-feira (12), no Bom Dia Pará.
Pai entrou em desespero ao saber de morte de filho no naufrágio.
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Os relatos apontam que, no dia do naufrágio, a correnteza estava muito forte. Ainda assim, o comandante, marcos oliveira teria optado por uma rota cheia de pedras, que não é usada por embarcações que transportam passageiros. Próximo a Cotijuba, todos ouviram um forte estrondo e a embarcação ficou à deriva.
“O marcos pedia, ele abria os braços que era para gente não se levantar, para ninguém fazer nada, ficar quieto, que ele estava ligando paro o resgate”, relatou uma das sobreviventes, Raimunda Santos.
“Depois uma senhora olhou para o porão, viu a água entrando e gritou que a lancha estava furada. Ele foi lá e mandou que ela calasse a boca: ‘cala a tua boca’ e fechou o porão da lancha”, detalhou Raimundo Serra, um dos sobreviventes, pai de Brenda e avô da Lívia, que morreram no naufrágio.
Raimundo Santos (à esquerda) é um dos sobreviventes do naufrágio.
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Em trâmite na Justiça, a acusação diz que houve omissão de socorro. Depoimentos relataram que o comandante pulou no barco com sua esposa para se salvar e fugir, sem desamarrar os botes para que os tripulantes pudessem usar. A defesa nega.
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Sobre o caso, a Justiça do Pará disse apenas que “o processo no qual figura como réu Marcos de Souza Oliveira está em tramitação na 2ª Vara do Tribunal do Júri de Belém”.
Antes de ser preso, Marcos Oliveira passou cinco dias foragido da polícia após o naufrágio.
Reprodução / TV Liberal
O inquérito policial do caso foi devolvido à delegacia de Polícia Fluvial, devido ao pedido de novas diligências requeridas pelo Ministério Público, para ouvir outras vítimas que sofreram lesões no ocorrido e esclarecer as circunstâncias da retirada da embarcação, dentre outras questões.
“Desde a instauração do Inquérito já foram ouvidas cerca de 65 pessoas já foram ouvidas, dentre elas vítimas e testemunhas. Ademais, já foram levantados e individualizados os supostos ocupantes da embarcação e óbitos ocorridos, com Laudos Necroscópicos”, pontuou a Polícia Civil (PC).
Denúncias
Lancha Dona Lourdes que naufragou próximo à Cotijuba, na travessia do Marajó a Belém.
Reprodução / TV Liberal
Os moradores do Marajó, arquipélago de onde a lancha partiu, reclamam constantemente de viagens muito cheias, barcos que dão pane e viagens regulares suspensas. Com esses problemas nas embarcações regulares, muitas vezes os moradores recorrem aos barcos clandestinos para conseguir chegar ao destino, apesar da situação precária.
A população diz que esses problemas são antigos e outros acidentes com mortes já ocorreram. Um dos naufrágios mais conhecidos aconteceu em julho de 1988, quando o barco correio do Arari afundou em frente à ilha das Onças. Cerca de 30 pessoas morreram no acidente.
Ainda segundo os moradores da região, os barcos regulares saem com capacidade máxima, ainda deixando pessoas para trás. Sem perspectiva de horário para a próxima viagem, eles pegam o barco clandestino, que muitas vezes sai logo atrás do barco regular de porto clandestino próximo ao porto regular.
Sobre as denúncias, a Arcon-PA informou que colabora com as investigações e destaca que intensificou a fiscalização nos portos de linhas regulares no estado, além de manter diálogo com a população para o uso de embarcações autorizadas e melhoria do serviço hidroviário.
A Companhia de Portos e Hidrovias do Pará (CPH) comunicou que sete obras do setor estão em andamento nos municípios de Anajás, Breves, Chaves, Melgaço, Oeiras do Pará, Salvaterra e Soure, com novas estruturas, mais seguras e confortáveis para o embarque e desembarque de passageiros na região.
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