Situação ocorre na rua Dom Alberto Gaudêncio Ramos, localizada ao lado da Basílica. ‘Até o padre foi barrado. Não somos contra a festa, mas precisamos ser ouvidos’, diz moradora. Círio de Nazaré 2023: Rua Dom Alberto Gaudêncio Ramos fica interditada durante quadra nazarena
Arquivo Pessoal
Moradores do entorno da Basílica Santuário de Nazaré, em Belém, reclamam de dificuldades de acessarem às próprias casas na Rua D. Alberto Ramos e de barulho intenso. Eles também se queixam de arbitrariedade por parte de autoridades que integram a organização do Círio.
“Nós não somos contra a festa. Nós sabemos que moramos no local em que, uma vez por ano, vamos passar por isso, mas nós precisamos ser ouvidos porque eles [autoridades] só aparecem na época do Círio”, diz uma moradora.
De acordo com as reclamações, a Superintendência de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) não disponibilizou um “passe livre” para os moradores, que são proibidos de entrar na Rua Dom Alberto Gaudêncio Ramos, na lateral da Basílica se não tiverem com comprovante de residência em mãos. Eles questionam o motivo pelo qual não são chamados para conversar e serem informados sobre os preparativos da festa.
“Durante o ano inteiro a gente sofre com todos as intempéries e eles não estão nem aí. Quando chega essa época, restauram tudo, fecham a rua do jeito que querem e a gente fica cerceado de poder entrar e sair da nossa casa”, desabafa Simone Cruz.
Todos os anos, a Rua Dom Alberto Gaudêncio Ramos tem acesso limitado com cancelas colocadas no início da rua, que é acessada pela Travessa 14 de março, e no final, com acesso à Avenida Generalíssimo Deodoro.
Este ano, de acordo com os moradores, quem mora no trecho só pode entrar pela Av. Generalíssimo e com comprovante de residência em mãos.
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Círio de Nazaré 2023: acesso para moradores na Rua Dom Alberto Gaudêncio Ramos fica restrito pela Av. Generalíssimo Deodoro
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“Se nós não tivermos um comprovante de residência, nós não podemos entrar e nós não podemos estacionar. Moradores que não têm vaga de garagem, não podem estacionar em frente ao prédio. Até o padre que veio rezar a missa da novena do prédio foi barrado”, diz a moradora.
“Nós não somos ouvidos em nenhuma decisão. Eles decidem e temos que acatar. Se vier alguém na nossa casa, não pode entrar. Pessoas que não têm garagem, não podem estacionar. Isto é um absurdo. A gente mora aqui 365 dias do ano, além do pessoal da vila, e somos os mais prejudicados da história”, diz Simone. Outros moradores ouvidos pelo g1 têm reclamações semelhantes.
Uma segunda moradora da área informou que, em anos anteriores, uma semana antes do Círio, era entregue uma credencial aos moradores da rua para terem acesso durante os 15 dias de festa às suas casas.
A moradora conversou com um dos diretores a respeito do acesso e do estacionamento e ouviu que “no Japão, quem não comprovasse garagem na escritura do apartamento, não poderia ter carro”.
“Aí eu questionei com ele e disse que nós não estamos no Japão, nós estamos em Belém e a gente tem uma demanda totalmente diferente. O Japão não tem uma festa como a nossa”.
A moradora reconhece que a festa ocorre antes dos moradores chegarem ali, mas diz que falta respeito.
“Somos católicos, mas a gente tem o direito de ir e vir com segurança, né? Eles colocam pessoas que não são preparadas para tomarem conta das cancelas e isso acarreta vários estresses entre morador e terceirizado. A Diretoria da Festa simplesmente disse que não teria o voucher do acesso e que a gente ia ter que entrar e sair pela Generalíssimo com o comprovante de residência. Eles têm que entender que do lado da Basílica mora uma comunidade. Outro dia a síndica chegou de viagem de madrugada e não pôde entrar na casa dela porque não tinha o comprovante de residência, sendo que ninguém foi comunicado anteriormente”, diz.
Ela questiona ainda a falta de informações por parte dos órgãos competentes.
“A Basílica dá uma informação, a Semob dá outra. Era para ser um momento de paz, de tranquilidade. A gente sabe que é uma festa bonita, que a gente precisa colaborar, mas a Diretoria também precisa colaborar respeitando os moradores”, finaliza.
A Semob informou por meio de nota que, todos os anos, a rua D. Alberto Gaudêncio Ramos é fechada, no período que antecede o Círio, pela a Diretoria da Festa e que “a própria Diretoria faz o controle dos moradores, que são cadastrados para autorização de acesso à via”.
Já a Diretoria da Festa de Nazaré (DFN) informou que a ordem de serviço relativa à Rua Dom Alberto é emitida pela Semob e a DFN acata. “Não temos ingerência e não podemos expedir passes livres ou autorizações de trânsito. Todos os diretores se submetem”, diz a Diretoria em nota. Sobre isto, a Semob não se manifestou.
Segundo os moradores, no entanto, não houve cadastro prévio.
A DFN alega ainda que “o acesso dos moradores é plenamente garantido, com entrada e saída pela avenida Generalíssimo Deodoro” e que “apenas o trecho da Rua D. Alberto, que fica entre a Travessa 14 de Março e o fim do Arraial, é fechado ao trânsito, por questões de segurança, em função do grande público que circula nesta área. Além disso, no perímetro são estacionados os veículos dos órgãos de segurança e saúde, os veículos militares e de imprensa”.
“Mas as pessoas em situação de vulnerabilidade permanecem aqui e não fazem um trabalho social para auxiliar e abrigar essas pessoas”, diz outro morador.
Barulho intenso
Outra reclamação é sobre o volume do barulho na montagem de equipamentos e na concha acústica da Praça Santuário.
Os moradores dizem que as montagens dos equipamentos do parque ITA e na praça ocorrem de madrugada e que os moradores não conseguem dormir. Além disto, a música na concha acústica na praça em frente à Basílica passaria dos decibéis permitidos por lei.
“Além do barulho do ITA atrás, a gente tem o som da frente que eles não têm um horário para terminar e muito menos os decibéis permitidos para região são respeitados. Então, tem gente que sai dos seus apartamentos, passa um tempo fora porque não aguenta. As janelas tremem de tão alto que é o som. No prédio moram muitos idosos. Só que eles não estão nem aí para quem mora aqui no entorno”, diz Simone.
Moradores do prédio de trás chegaram a formalizar a reclamação ao Ministério Público e foram atendidos.
Morador grava som em apartamento durante shows na concha acústica da Praça Santuário
Com relação à Concha Acústica, a DFN informou que ainda não houve nenhum evento da Diretoria no local.
“O Círio Musical só começa no domingo, dia 08, e todos os shows são programados para terminar antes das 22h, em respeito aos moradores do entorno. Trata-se de uma programação que existe há décadas e que sempre observou esses horários, bem como, respeitando um volume de som permitido. São shows que normalmente iniciam às 19h e terminam às 21h30”, diz a nota.
A Diretoria complementou dizendo ainda que:
“Não sabemos se a reclamação tem por origem os ensaios da equipe responsável pelo show de abertura oficial do Círio que ocorre nesta terça, dia 03, na Praça Santuário, o qual também respeitará o horário para encerrar por volta de 21h30 e também o limite permitido para o volume de som”.
O g1 procurou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) sobre a fiscalização e medição dos níveis de decibéis permitidos, mas até o fechamento desta reportagem, não tivemos retorno.
A Diretoria da Festa de Nazaré disse também que se coloca à disposição para reunir “com os órgãos competentes e moradores para encontrar uma solução que seja a mais agradável para todos”, informando que há representantes da DFN no Arraial de Nazaré.
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