Empreendedores criam produtos temáticos, lançam coleções, participam de feiras e fazem parcerias como estratégias de vendas e negócios no período da festa de Nazaré. Simbologias do Círio de Nazaré ganham forma nas mãos de artistas locais
Mailson Dantas
Quando chega o mês de outubro, ou até antes, a capital do Pará respira Círio de Nazaré, e quando se diz “respira”, é porque tudo fica diferente. O clima vivido todos anos até chegar o segundo domingo de outubro mexe com moradores e visitantes, e também impulsiona a criatividade e o empreendedorismo. Por que não? Afinal, o primeiro Círio, em 1793, já surgiu com uma pequena quermesse onde se encontra a Basílica de Nazaré atualmente.
Em 2022, a movimentação injetou cerca de R$ 100 milhões na economia, de acordo com a Secretaria de Turismo do Pará.
Somente o setor de gastronomia deve ter um faturamento de mais de 20% neste período, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
E devido a essa grande movimentação que envolve a cultura de um povo, o Círio acabou se tornando um período muito esperado por empreendedores e empresários, do micro ao grande, do artesanato à rede hoteleira.
“Naza” estampada, símbolos e matéria-prima da Amazônia
Júlia Leão lança coleções com ilustrações temáticas de Círio todos os anos
Mailson Dantas
“Já ilustro para o Círio há alguns anos, e desde 2017 fazemos uma coleção com ilustração exclusiva, estampando camisetas e alguns itens de decoração feitos em parceria com a Flor de Jambo. As inspirações estão por todo lado. Passo o ano inteiro aberta a recebê-las. Tem rascunho guardado há mais de três anos, que um dia vira uma ilustração colorida e enfeita o Círio de um bocado de gente”, conta a ilustradora Júlia Leão.
A ilustração de Júlia fala de Maria, mas também passeia por pontos turísticos de Belém, como Ver-o-Peso, Theatro da Paz, Basílica, pontos históricos, hoje turísticos, que integram o percurso da grande procissão.
E para calçar os pés de quem opta por ir calçado às procissões ou para quem gosta de estar com a temática Círio no almoço de domingo, a estilista Lorena Cirino produz sandálias que levam símbolos já conhecidos: corda, fitas coloridas, pérolas [que para ela lembram o terço] e até a imagem de Nossa Senhora de Nazaré estilizada.
Círio de Nazaré 2023: há oito anos, estilista dá vida à sandália temática do Círio
Divulgação
“Lora”, como é mais conhecida, produz as coleções há oito anos. Ela é devota de Maria e até mesmo antes das sandálias, fazia camisas com a imagens de Nossa Senhora pintadas à mão. Ela conta que os “perrengues” do empreendedorismo fizeram com que ela direcionasse melhor a atenção para as sandálias.
“A sandália de fita é um sucesso muito grande, cada ano que passa eu planejo mais cedo, mas este ano foi o ano que mais arrasei. Comecei a planejar em fevereiro, a pensar como seriam os modelos, executei no final de julho e lancei a coleção no final de agosto. Isso me deu um fôlego muito grande, tanto para conseguir atender lojas, quanto para fazer estoque”, analisa a estilista.
Fitas de Nossa Senhora de Nazaré compõem sandália de estilista paraense
Divulgação
Ela já está pensando no Círio 2024.
“Quero produzir desde o início do ano para vender neste período. Se eu tivesse feito mais sandálias este ano, teria vendido tudo, até porque este ano as estratégias foram bem assertivas, incluindo as parcerias, como a Lolitta, que vende as camisas que fiz este ano”, conta.
Já Ludimila Heringer, trabalha com moda autoral e faz coleções e produz sob medida, e teva matérias-primas de plantas da Amazônia para suas peças.
“Aplico as técnicas de tingimento natural, estamparia botânica sobre os tecidos e produzo as peças que crio. Incorporo o crochê, o bordado, mas a matéria-prima é de plantas. Já tinjo com pariri, urucum, andiroba, copaíba, e castanha-do-pará”, descreve.
Simbologia reunida em feiras
Feira do Miriti 2023
Joyce Ferreira/Agência Pará
Um pouquinho da cultura paraense, que se mistura com a cultura nazarena, é levada para feiras no período da festa do Círio.
Uma delas é a Feira do Miriti, árvore típica da região amazônica, a qual dá forma a inúmeros artesanatos, entre brinquedos e souvenirs.
Cerca de 60 artesãos do município de Abaetetuba expõem seus trabalhos no local, que este ano está na Praça D. Pedro II, no bairro da Cidade Velha, em Belém.
Já no Parque Porto Futuro, é realizada a Feira de Artesanato do Círio, que tem a expectativa de gerar R$ 1,5 milhão em volume de negócios e atrair 65 mil visitantes.
Feira de Artesanato do Círio é aberta em Belém
Divulgação
Na Feira do Artesanato, é possível conhecer um pouco mais do trabalho de economia criativa, que inclui gastronomia, biocosméticos, licores e essências amazônicas.
Ambas as feiras também reúnem programação musical, como forma de atrair visitantes a consumirem os produtos artesanais.
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