Após hiato de cinco anos, banda paraense, conhecida por ajudar a levar o eletromelody pelo mundo, retoma com show no Estádio do Mangueirão, anunciando novo álbum e intenção de rodar o país para relembrar a própria história. Gang do Eletro retorna com show no Mangueirão, em Belém.
Jerê Santos / Festival Psica
Do último show da banda paraense Gang do Eletro em 2018 até início da madrugada deste domingo (17), os vocalistas DJ Waldo Squash, Will Love, Marcos Maderito e Keila, não deixaram de lado a vontade de se juntar novamente no palco e continuar fazendo música, em paralelo às carreiras solo. A apresentação no primeiro dia do Festival Psica, no Estádio do Mangueirão, em Belém, marca então o retorno, após cinco anos de hiato, com a promessa de turnê pelo Brasil no próximo ano, novo disco e roupagem do tecnobrega nortista cada vez mais pop e explosivo.
O grupo, que se apresentou na abertura das Olimpíadas do Rio em 2016, tomou conta do palco no estádio com energia, dançarinos, muitas cores, projeções, explosões de papel picado e pirotecnia. Eles subiram por volta de 1h40, logo após show de Jorge Ben Jor no festival.
A apresentação celebrou a música da periferia paraense, as conquistas de Gaby Amarantos e prestou homenagem surpresa a Léo Platô – com direito a muita comemoração e emoção nos bastidores.
Gang do Eletro e equipe, Gaby Amarantos, tia de Léo Platô se encontram atrás do palco, após show marcante no Festival Psica.
Reprodução / Gang do Eletro
O público já estava aglomerado, ocupando as grades, pronto para as “tremedinhas” e a “mãozinha da laje”, estilos de dança que continuam viralizando pela internet atualmente. Ambos os “passinhos” são típicos da cultura das aparelhagens no Pará, muito ligada à periferia, e que a Gang do Eletro ajudou a popularizar.
DJ Waldo Squash, que já tocou na Europa e tem no currículo uma mixagem oficial dos Pet Shop Boys, disse que a música paraense, em especial o tecnobrega, vive um “momento de ascensão”, citando inclusive o Grammy Latino de “Melhor Álbum de Música de Raízes Em Língua Portuguesa”, conquistado pela conterrânea Gaby Amarantos. O álbum juntou sucessos de Gaby do início da década que antes eram vendidos em CDs piratas e agora estão disponíveis nas plataformas digitais.
“É uma grande prova de maior aceitação, reconhecimento, do tecnobrega a Gaby ter ganhado esse primeiro grande prêmio internacional e eu tive o prazer de ter colaborado em uma música desse disco – que foi recriada pelo produtor musical Félix Robatto, meu amigo. É um trabalho que vem sendo desenvolvido desde Banda Calypso, a própria Gaby, a Gang, Manu Bahtidão agora alcançando o topo das paradas”.
Gaby Amarantos prestigiando show de Gang do Eletro no Mangueirão, em Belém.
Jerê Santos / Festival Psica
Waldo havia prometido que a Gang iria contar a própria história durante o show, o que acabou se concretizando no palco. O setlist partiu das primeiras gravações da banda, que na época eram ainda muito “artesanais”, para os últimos lançamentos, em um formato mais elaborado que rodou até fora do país.
“O tecnobrega, que sofria tanto com preconceito, é para muitos na região Norte mais que um estilo musical. É uma forma de vida das pessoas. Isso ultrapassa a música, não é só um ritmo que toca, vai desde quem dança, trabalha na aparelhagem, os artistas que fazem os visuais nas projeções de telão, as pinturas e grafites nas caixas das aparelhagens…”, ele destaca.
Com muitas referências à própria Gang, a banda buscava algo grande para marcar o reencontro. “A gente queria que essa volta fosse gigante, para a gente contar a nossa história no palco, passando por sucessos como “Indiana do Pop”, que até hoje tocam nas aparelhagens. Queríamos entregar um espetáculo maravilhoso e é um show que a gente está preparando para circular a partir do ano que vem, assim como um novo disco”, diz Waldo.
‘Evolução à frente do tempo’
Keila relembra dos anos antes de 2018, quando havia anunciado saída da Gang para projetos pessoais. “Em 2012 o tecnobrega viveu uma era em que a Gang estourou, a ‘tremidinha’, as batalhas, o pancadão, o “rock doido”, sempre evoluindo na questão técnica, no profissionalismo, a chegada nas plataformas de streaming”, cita.
“O tecnobrega está cada mais evoluído e sempre foi à frente do seu tempo”.
No tecnobrega, muitas músicas que podem nem ter sido lançadas como singles oficiais de artistas internacional, ou até hits estrangeiros, se tornam versões. Aliada às letras, a diversidade da música aparece nos lançamentos da Gang do Eletro, que vai do “eletromelody” às origens caribenhas. Para Keila, o momento é de “reverenciar tudo isso, essa cultura das aparelhagens, a discografia da Gang, e também as novidades a partir desse retorno”.
“Eu acho que a gente não está mais naquele momento de explicar o que é o tecnobrega, o Brasil já entendeu, e vários artistas daqui ajudam a disseminar essa musicalidade pelo Brasil”.
Keila, que já protagonizou momentos marcantes em outras edições do festival Psica, como a participação solo na aparelhagem Crocodilo em 2021, anuncia que a vontade agora de continuar se apresentando em grandes palcos como os que a Gang já ocupou anos atrás. “Unimos toda nossa alegria, nossa dança, para que o Brasil veja”.
“Esse retorno eu penso como uma forma de celebrar tudo que a gente construiu, são dez anos do lançamento do nosso primeiro disco, depois disso foram tantos feitos, e agora a gente quer reconhecer isso, se abraçar, comemorar”, diz Keila.
O fã número 1
Produtor recebe homenagem de Will Love, em show da Gang do Eletro, no Mangueirão, em Belém.
Reprodução / Léo Modesto – Instagram
Nas primeiras batidas de “Velocidade do Eletro”, Will Love disparou a quem estava dedicando o show: “Léo Platô esse show é dedicado a você. Ele vai tremer com a gente porque ele era fã da Gang, e falava que era o número 1”. A foto do telão era de Leonardo Augusto Barbosa Fonseca, que morreu em agosto deste ano.
Léo acumulou, em vida, milhões de visualizações de curtas-metragens feitos para a internet, onde a trilha era o tecnobrega e as histórias tinham a ver com a cultura paraense, e deixou um legado de novas formas de consumir a música do Pará. O produtor chegou a participar da direção do Sons Do Pará 2016, um programa de música paraense exibido pela TV Liberal.
A morte de Léo foi lamentada por vários artistas e personalidades, como Fafá de Belém, Dona Onete, entre outros, inclusive a Gang do Eletro. O grupo, além de ter aparecido em vídeos de Léo, o apoiava nos projetos de valorização da música das aparelhagens de som, como conta a madrinha dele, Erika Siqueira, que estava no show e presenciou a homenagem surpresa.
“Léo era meu parceirinho de vida, fiquei destruída com a partida do nosso menino prodígio”, ela diz.
Ao fim do show, Erika encontrou com a Gang, que havia acabado de deixar o palco e comemorava com Gaby Amarantos e a equipe nos bastidores. O momento foi para celebrar o retorno da Gang, da evidência crescente sobre a música paraense com ajuda de Gaby, e a contribuição de Léo Platô para a cena.
“Fiquei muito emocionada, muito feliz de ver aquela homenagem toda lá, foi lindo lindo demais, naquela estrutura toda, então o Léo acabou ecoando naquele Mangueirão”, diz Erika.
Ela, que além de madrinha também trabalhava com Léo nas produções, disse que a emoção veio muito da sintonia que tinha com o afilhado ter sido materializada no palco, onde Will Love estava dedicando um show ao jovem que queria levar esse tipo de música para além das fronteiras: “Era um apoiando o outro. Estou muito feliz por a Gang estar continuando esse trabalho de divulgação da nossa regionalidade musical que o Léo tanto se dedicava também”.
Will Love era tido como um dos melhores amigos de Léo. E Léo era padrinho do filho de Will, o Paulo André.
Programação
O Festival Psica começou na sexta-feira, em dia gratuito, com quatro palcos na Cidade Velha. Foram 36 atrações simultâneas agitando o centro histórico de Belém. No sábado, se apresentaram no Mangueirão Jorge Ben Jor, Majur, Gang do Eletro, Odair José, entre outros.
A programação vai até este domingo (17) com Alcione + MC Tha, Gaby Amarantos + Viviane Batidão, Rachel Reis, encerrando com a aparelhagem de som Carabao.
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