Jovem pankararu valoriza ‘vivência’ presente no vestibular indígena e sonha com medicina na Unicamp: ‘Descolonizando o ensino’

Vestibular reuniu 3,3 mil candidatos de 111 etnias em 6 cidades brasileiras neste domingo (14). são oferecidas 130 vagas na Unicamp e outras 65 na UFSCar. Vestibular indígena da Unicamp 2024: Marcela Torres Nonato, da etnia pankararu, sonha com vaga em medicina
Wesley Justino/EPTV
A edição 2024 do vestibular indígena unificado entre Unicamp e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), realizado neste domingo (14), reuniu 3,3 mil candidatos de 111 diferentes etnais em 6 cidades brasileiras. Em Campinas (SP), um dos locais de prova, Marcela Torres Nonato, da etnia pankararu, sonha com medicina e sonha com a vaga para ajudar a “desconlonizar o ensino”.
“Estou ansiosa! Não sei se eu passei, se alguém se preparou melhor do que eu, mas com a força dos nossos encantados, eu espero que eu passe, para avançar cada vez mais, descolonizando o ensino, descolonizando a universidade, ocupando esse espaço. Pintando esse espaço de urucum, jenipapo e barro branco”.
Para a jovem, o processo seletivo baseado em vivências dos povos originários agradou. “A prova falou sobre a questão das terras, falou sobre desgoverno, ela trouxe a nossa vivência, tanto dos povos aldeados como os que estão fora das aldeias de contexto urbano. Temas importantíssimos da nossa vivência e do nosso contexto”, disse.
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Marcela destacou uma questão sobre Quitéria Binga, uma liderança Pankararu que ajudou na demarcação da Terra Indígena.
“Por trazer as nossas vivências, não é que ela [questão] se tornou fácil, é que ela trouxe a nossa vivência, né. A gente não precisou responder uma questão do não indígena e, sim, questões relacionadas aos nossos povos”, explicou.
Sobre a redação, a estudante destacou que o tema abordou redes sociais e a linguagem e os idiomas dos povos indígenas do Brasil. “Uma coisa muito importante. Tantos idiomas foram assassinados. Os povos que mantêm o seu idioma, sua primeira fala, é importante”.
Estuda ciências sociais
Marcela saiu do Pernambuco e mora em Mogi Mirim (SP) há três anos. Ela estuda ciências sociais na Universidade Estadual de Campinas, mas mantém vivo o sonho de virar médica.
“Em 2020 eu prestei para ciências sociais, acabei passando, só que eu sempre quis fazer medicina. Porém, o ano que eu prestei o curso de medicina não tinha essa abertura. Com muita luta dos estudantes indígenas, nas nossas lideranças, a gente conseguiu que a coordenação do curso de medicina, a Unicamp, abrisse essas vagas”, destacou.
Como foi a prova?
A prova deste domingo foi realizada em língua portuguesa, composta por redação e 50 questões de múltipla escolha, divididas da seguinte maneira:
Linguagens e códigos (14 questões);
Ciências da Natureza (12 questões);
Matemática (12 questões);
Ciências Humanas (12 questões).
São oferecidas 130 vagas na Unicamp, distribuídas em todos os cursos da universidade, e outras 65 vagas na UFSCar.
111 etnias
Ahkhto Barreto, de 24 anos, é da etnia tukano e participa do vestibular indígena 2024 da Unicamp
Wesley Justino/EPTV
De acordo com a Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest), a edição 2024 recebeu inscrições de estudantes de 111 etnias diferentes, sendo que a maioria é Ticuna, seguido das etnias Baré e Tukano.
Entre os candidatos da etnia Tukano está Ahkhto Barreto, de 24 anos. Natural de São Gabriel da Cachoeira (AM), o jovem prestou o vestibular indígena pela 2ª vez.
Primeiro, fez o processo seletivo na cidade de origem e passou em engenharia mecânica na UFSCar, mudando-se para o interior de São Paulo em 2020.
Agora, ele presta a prova em Campinas (SP), de olho em uma vaga em engenharia da computação, também na UFSCar
Ainda segundo a Comvest, o vestibular também conta com inscritos dos povos Yanomami, Guarani, Marubo, Munduruku, Pankararu, Potiguara. Veja a relação com as 10 etnias com mais candidatos:
Vestibular indígena 2024 – 10 etnias com mais inscritos
Os candidatos precisaram comprovar durante a prova que pertencem a uma das etnias indígenas do território brasileiro, por meio da documentação indicada no edital.
Irmãs na disputa
As irmãs Cinara e Tanila Almiron, de 27 e 25 anos, da etnia Terena, prestam o vestibular indígena da Unicamp e UFSCar pela primeira vez
Wesley Justino/EPTV
As irmãs Cinara e Tanila Almiron, de 27 e 25 anos, respectivamente, prestaram pela primeira vez o vestibular indígena uinificado da Unicamp e UFSCar.
As jovems que são da etnia Terena, de Mato Grosso do Sul (MS), moram atualmente em Santa Bárbara d’Oeste (SP).
Cinara busca uma vaga em fisioterapia na UFSCar, ou farmácia, na Unicamp. Já Tanila sonha com a classificação para o curso de pedagogia, seja em Campinas ou São Carlos.
Apoio total
Daiana (ao centro), da etnia Guarani, chegou acompanhada da irmã e do cunhado para prestar o vestibular indígena da Unicamp pela 1ª vez
Wesley Justino/EPTV
Daiana Martines Fernandes, da etnia Guarani, chegou para prestar o vestibular indígena 2024 na Unicamp acompanhada da irmã, Keila, e do Diogo, namorado da Keila – os dois também são da etnia Guarani e já estudam na Universidade Estadual de Campinas.
A jovem saiu de Dourados (MS) para fazer a prova em Campinas e luta por uma vaga no curso de engenharia de alimentos.
Calendário
1ª chamada de convocados para matrícula – 05/02 – site da Comvest;
Matrícula virtual – das 9h às 17h de 06/02 – pelo mesmo portal;
Ao todo estão previstas até cinco chamadas de candidatos.
Rotatória de acesso à Unicamp, em Campinas
Antonio Scarpinetti/Unicamp
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