
Papa, que morreu nesta segunda-feira (21), ficou conhecido pelo apelo à preservação do bioma e foi uma das vozes mais ativas contra o desmatamento ilegal na região. Papa Francisco durante sermão na missa de abertura do Sínodo da Amazônia, no Vaticano.
Tiziana Fabi/AFP
“O nosso sonho é de uma Amazônia que integre e promova todos os seus habitantes, para poderem consolidar o bem viver. Mas impõe-se um grito profético e um árduo empenho em prol dos mais pobres.” É assim que o Papa Francisco começou a exortação Querida Amazônia, escrita por ele após o Sínodo para a Amazônia em 2019. O papa, que morreu nesta segunda-feira (21), ficou conhecido pelo apelo à preservação do bioma e foi uma das vozes mais ativas contra o desmatamento ilegal na região.
Jorge Mario Bergoglio morreu aos 88 anos, às 2h35 pelo horário de Brasília (7h35 no horário local), desta segunda-feira. As informações foram confirmadas pelo Vaticano. O pontífice ocupou o cargo máximo da Igreja Católica por 12 anos.
Em 2017, quatro anos após o início do seu pontificado, Francisco impressionou fiéis do mundo inteiro ao convocar, pela primeira vez, um sínodo dedicado à Amazônia. O encontro aconteceu em Roma dois anos depois e reuniu representantes de todos os países da Amazônia Legal, incluindo bispos, padres e religiosos da Amazônia Brasileira.
Papa Francisco com os participantes da assembleia especial do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia
Divulgação/Vatican News
Ao g1, o padre Amarildo Luciano, reitor do Santuário Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, e um dos convidados a participar do Sínodo, descreveu o encontro com o pontífice.
“Durante a assembleia, o papa se fazia presente e escutava com atenção todas as intervenções. Ele próprio confirma na introdução da exortação “Querida Amazônia”: “Ouvi as intervenções ao longo do Sínodo e li, com interesse, as contribuições dos Círculos Menores” (QA, 2). Ele esteve no Peru. Aliás, foi durante a sua estada na Amazônia que ele indicou a sua intenção de convocar o sínodo. Gostaríamos muito que ele tivesse visitado a parte da Amazônia brasileira, mas infelizmente isso não aconteceu, por diversos fatores”.
O religioso destacou a preocupação do papa com os ribeirinhos. Segundo ele, o líder da Igreja Católica se importava não apenas com a região, mas com a qualidade de vida dos povos que habitam o bioma.
“Outros papas, é claro, já tinham demonstrado atenção para com a nossa região. O Papa Paulo VI afirmou que “Cristo aponta para a Amazônia”. O Papa João Paulo II esteve nos visitando, inclusive. Mas o Papa Francisco demonstrou especial preocupação com a qualidade de vida dos povos que vivem na Amazônia: os povos originários e os ribeirinhos”, descreveu.
“O Papa Francisco nos despertou ainda mais para o compromisso que devemos ter com essa região rica e de pessoas pobres. E nos convida a estarmos próximos às populações mais vulneráveis”, continuou.
Papa Francisco durante o Sínodo da Amazônia, no Vaticano
Remo Casilli/Reuters
Para o padre, o papa também convocou toda a Igreja a refletir sobre a ecologia integral e como ela impacta a evangelização. Ainda de acordo com ele, o pontífice desejava abrir mais espaço dentro da Igreja para todos os cristãos batizados, inclusive as mulheres.
“Eu diria que participar do sínodo foi uma oportunidade de entender como o Papa compreende a Igreja como povo de Deus. Não podemos compreender a Igreja somente a partir da hierarquia. A Igreja são todos os fiéis batizados”.
Primeiro cardeal da Amazônia
Dom Leonardo Steiner durante ida ao Vaticano em 27 de agosto de 2022
Remo Casilli/REUTERS
A atenção de Francisco pela Amazônia foi tão grande que, em agosto de 2022, ele nomeou o arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner, como o primeiro cardeal da Amazônia Brasileira.
Na época, logo após o anúncio, Steiner afirmou que o papa estava preocupado com o desmatamento, com as ameaças às culturas indígenas e com a poluição dos rios causada pelo uso de mercúrio em garimpos ilegais na região.
“A nomeação de um cardeal da Amazônia mostra o desejo do Papa de aproximar a Igreja da Amazônia”, disse Steiner.