
Os primeiros moradores devem deixar o local por volta das 7h30. Ao todo, 11 famílias participarão da desocupação; governo estadual diz que se trata de uma ‘mudança programada’. União argumenta que ‘a transferência do terreno está condicionada à garantia do direito à moradia das quase mil famílias’. Moradores protestam na Favela do Moinho.
Arquivo pessoal
O governo de São Paulo iniciará, na manhã desta terça-feira (22), a remoção de famílias da Favela do Moinho, a última ainda existente na região central da capital.
Os primeiros moradores devem deixar o local por volta das 7h30. Ao todo, 11 famílias participarão da desocupação, que, segundo o governo, trata-se de uma ‘mudança programada’, voltada para aqueles que aderiram a programas habitacionais da CDHU.
A remoção ocorre em meio ao processo de cessão do terreno, já que a área da Favela do Moinho pertence ao governo federal. O governo do estado, então, entrou com um pedido de cessão do local e o processo ainda está em andamento. A ideia é transformar a área em um parque.
Em nota enviada anteriormente ao g1, a Secretaria do Patrimônio da União (SPU/MGI), por meio da Superintendência de São Paulo, confirmou que o estado solicitou a cessão. No entanto, afirmou que “a transferência do terreno está condicionada à garantia do direito à moradia das quase mil famílias que vivem no local.”
Disse ainda que não há previsão para a cessão da área e que o processo depende de ajustes e “complementações, por parte da CDHU, no plano de reassentamento enviado em abril deste ano, para que contemple as necessidades dos moradores.”
A SPU também aguarda a entrega do detalhamento do projeto a ser implantado na área pelo Governo de SP, a fim de que seja definido o instrumento de destinação a ser utilizado. “Somente após esse acordo será possível avançar nos trâmites administrativos para a formalização do contrato de cessão.”
O g1 questionou a pasta sobre possíveis demolições na área, mas até a última atualização da reportagem não houve retorno.
Protestos
PMs na Favela do Moinho.
Arquivo pessoal
Moradores do Moinho vem realizando uma série de protestos contra a demolições de casas no local. No dia 18 de abril, houve um protesto contra a presença de agentes da Polícia Militar no local.
A manifestação interrompeu temporariamente a circulação de trens entre as estações Júlio Prestes e Palmeiras-Barra Funda, na Linha 8-Diamante.
Os agentes teriam chegado ao local durante a manhã e, segundo os moradores, entraram na favela com truculência, lançando gás de efeito moral contra a população.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que a Polícia Militar “prendeu um suspeito de tráfico de drogas em uma comunidade localizada no bairro Campos Elísios, na sexta-feira (18).”
Com a nova remoção, lideranças contrárias à desocupação estão organizando pelas redes sociais um protesto para o mesmo horário da saída das primeiras famílias.
Protesto no Centro
PM joga bombas de efeito moral em manifestantes no Centro de SP
No dia 15 de abril, moradores da favela realizaram uma caminhada pelo centro da capital em protesto contra um projeto do governo do estado para a implantação de um parque no local.
Os manifestantes chegaram a ocupar as duas pistas da Avenida Rio Branco e seguiram em direção à Câmara Municipal. Por volta das 18h, quando passavam pela Avenida 9 de Julho, a polícia tentou dispersar o grupo com bombas de efeito moral.
Segundo o governo, a CDHU tem se reunido com os moradores desde o ano passado e está presente na região para “apresentar opções de atendimento habitacional” e “manter tratativas com as famílias que hoje moram na área, a fim de oferecer moradias dignas e seguras, de acordo com a política habitacional vigente.”
A gestão argumenta que a desocupação da área visa a segurança dos moradores e que, até o momento:
86% das famílias já iniciaram a adesão para o atendimento habitacional;
531 famílias já foram habilitadas, ou seja, estão prontas para assinar contrato;
e, dentre estas, 444 estão com um imóvel de destino definido.
Segundo a Associação de Moradores da Favela do Moinho, mais de 900 famílias vivem no local. Além das moradias, a comunidade também abriga comércios, que representam a principal fonte de renda para alguns moradores.
Alvo de operação
Em 2024, a Favela do Moinho foi um dos alvos de uma operação do Ministério Público na Cracolândia, que resultou na prisão de suspeitos de integrarem um esquema de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
A investigação apontou que a região abrigava uma base de inteligência do PCC, equipada com detector de radiofrequência para interceptar conversas operacionais da Polícia Militar.
MP denuncia onze pessoas ligadas ao PCC que usavam a Favela do Moinho, no Centro de SP, para atividades criminosas
Ainda segundo os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), os denunciados usavam a Favela do Moinho para guardar e vender entorpecentes, dissimulando a origem de recursos obtidos com o tráfico, captando sinais de rádios transmissores das forças policiais e colocando em prática os tribunais do crime dentro da comunidade.