‘Combo’ de extremos ameaça espécies e pode causar fome na América do Sul, diz estudo da UFSC

Temperatura da água do Oceano está mais alta, conforme estudo. – Foto: Mojo IA/Divulgação/ND
Um estudo da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) apontou que três fenômenos climáticos extremos estão ameaçando os oceanos, e consequentemente a vida na América do Sul. Conforme a pesquisa, as ondas de calor no mar, a alta acidez da água e a baixa clorofila acendem um alerta para pescadores e produtores.

O estudo chamado “Extreme compound events in the equatorial and South Atlantic” (Eventos compostos extremos no Atlântico Equatorial e Sul) foi publicado na última quarta-feira (16), na revista científica Nature Communications, conhecida mundialmente por divulgar pesquisas de alta qualidade em áreas das ciências naturais.
A pesquisa é liderada pela professora de oceanografia Regina Rodrigues, com participação de estudantes da UFSC, Universidade de Sorbonne, Universidade de Bern, Universidade de Bergen e da Organização de Ciência e Pesquisa Industrial da Commonwealth da Australia.
Oceano na América do Sul está sobrecarregado, alerta pesquisadora
Os pesquisadores explicaram que o oceano absorve 90% do calor do aquecimento global e 30% do gás carbônico. No entanto, o “combo” de problemas extremos mostra que os mares estão sobrecarregados e não conseguem mais se recuperar como antes.
O estudo usou dados de 1999 a 2018 para entender a ocorrência dos três eventos extremos que atingem os oceanos: as ondas de calor marinhas, extremos de alta acidificação e de baixa clorofila. Os resultados mostraram que houve um aumento na intensidade e ocorrência simultânea desses eventos extremos durante o período analisado.
Regina explicou o perigo que a combinação de fenômenos representa.
“Esses fenômenos das ondas de calor e de alta acidez poderiam ser de alguma forma aliviados se houvesse oferta de comida para as espécies. No entanto, identificamos que eles ocorrem simultaneamente a eventos extremos de baixa concentração de clorofila. Isso indica baixa concentração de algas microscópicas que são a base da cadeia alimentar nos oceanos. Ou seja, esse alívio de disponibilidade de comida não está ocorrendo”, pontua Regina.
Procurada pela reportagem para entender quais registros existem da costa catarinense e os impactos para o estado, a secretaria de Estado de Pesca e Agricultura não respondeu até a publicação da reportagem.
‘Combo’ de fenômenos climáticos extremos aumenta insegurança alimentar de países da América do Sul
Os dados das ondas de calor e da concentração de clorofila são coletados via satélite nas costas do Brasil — Norte a Sul —, Uruguai e África. O período do estudo – de 1999 a 2018 – corresponde aos anos em que os cientistas tinham as três variáveis disponíveis justamente para avaliá-las de forma conjunta.
Regina explica que essas regiões foram selecionadas justamente pela alta produtividade biológica e pela riqueza de biodiversidade. Esses fatores podem levar a um maior risco para atividades econômicas que dela dependam.
Conforme a pesquisadora, entender o que causa essa combinação de eventos climáticos pode ajudar na elaboração de estratégias de prevenção e enfrentamento de impactos negativos.
De acordo com o estudo, os fenômenos impactam a vida de peixes, mariscos e corais, que podem morrer ou migrar para outras regiões. Por consequência, profissões como a pesca e a maricultura enfraquecem, além de gerar insegurança alimentar em pessoas que dependem de peixes e outros frutos do mar como fonte de proteína.

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