‘Red Hat Report’ faz referências aos chapéus vermelhos usados por cardeais – Foto: Andrew Medichini/AP/ND
A morte do Papa Francisco na última segunda-feira (21) “deu a largada” para uma disputa pelo futuro da Igreja. Nos próximos dias, um conclave — ritual para a escolha do novo pontífice — deverá ocorrer e o próximo líder dos católicos será definido.
O último papa fez algumas reformas significativas no Colégio Cardinalício ao romper com a antiga tradição de que bispos de certas dioceses na Europa e nos Estados Unidos fossem automaticamente feitos cardeais. Ao contrário, ele nomeou bispos de países “inéditos” como Tonga, Mianmar, Mongólia, República Centro-Africana e Haiti, o que desagradou um grupo de católicos norte-americanos. É aí que entraria em ação o “Red Hat Report” (“Relatório do Chapéu Vermelho”, em tradução livre).
O que é o ‘Red Hat Report’, plano que ‘derrubaria’ o Papa Francisco
O Papa Francisco buscava romper com as tradições conservadoras da Igreja e incluir grupos minoritários dentro da agenda católica. Além de nomear cardeais de países muitas vezes esquecidos, ele também deu início a um processo de reforma que inclui dar papéis maiores às mulheres na instituição, como nomear mais diaconisas.
Suas críticas à desigualdade econômica e seu foco nos direitos dos imigrantes e na crise climática irritaram também os católicos que queriam um líder que ditasse as leis sobre ensinamentos morais, sem entrar em agendas políticas.
A maioria dos cardeais atuais foi nomeada por Francisco, que diversificou os continentes de origem em suas escolhas – Foto: Arte/ND
Segundo uma investigação feita pelo jornalista católico francês Nicolas Senèze, intitulada “Como a América quer mudar o Papa”, grupos de empresários ultraconservadores teriam se unido com lideranças católicas estadunidenses para elaborar o plano de “contra-ataque” às ações do pontífice argentino.
Conforme o repórter, o “Red Hat Report”, plano referenciado também pela CNN, teria sido encomendado por ex-policiais e agentes do FBI, advogados, jornalistas e acadêmicos para estudar a vida de cada cardeal nomeado por Francisco, visando destruir suas carreiras, caso suas ideias fossem próximas à do argentino, manipulando as biografias dos cardeais mais progressistas.
Tal plano, de acordo com Senèze, enfraqueceria a posição do Papa dentro da Igreja e possibilitaria um “golpe de Estado”.
Operação ‘Red Hat Report’ não derrubou o Papa Francisco, mas pretende destruir seu legado, dizem vaticanistas
Segundo Senèze, em 2020, o plano chegou em uma nova fase. Ao perceberem que Francisco se mantinha influente no poder, os conspiracionistas teriam começado a se preparar para o próximo conclave, já que, naquele ano, o argentino já estava com 84 anos e seu papado não iria durar muito mais tempo.
A segunda fase consistiria em preparar dossiês sobre os cardeais disponíveis para o próximo conclave, eliminando aqueles que pretendem dar continuidade às reformas implementadas pelo Papa Francisco, prejudicando a credibilidade deles.
Segundo os vaticanistas, o ‘Red Hat Report’ falhou em tirar o Papa Francisco do poder, mas entrou em nova fase para influenciar o conclave e, consequentemente, a escolha do novo pontífice – Foto: Divulgação/Vatican News/ND
Outro vaticanista, o jornalista Vicens Lozano compartilha da teoria da existência do “Red Hat Report”. Segundo ele, que é autor do livro “Vaticangate”, Francisco concentrou a Igreja nos pobres, refugiados, imigrantes, mulheres, na comunidade LGTBQIA+ e no meio ambiente. Isso fez ele ser considerado um outsider no Vaticano.
A recepção positiva por parte da esquerda ao Papa Francisco, segundo Lozano, teria motivado o grupo estadunidense a agir para prejudicá-lo. A internacionalização do Colégio Cardinalício também tira o peso dos cardeais europeus e norte-americanos e permite que representantes de outros continentes possam negociar seus próprios interesses dentro do conclave.
Até o momento, não há comprovações sobre a existência do “Red Hat Report”, mas a divulgação dessa informação tem chamado a atenção da imprensa internacional e dos vaticanistas, que observam de perto a preparação e as movimentações para o próximo conclave, que decidirá o próximo Papa, seja ele contrário ou favorável às ideias de Francisco.