A morte do Papa Francisco, aos 88 anos, em abril de 2025, reacendeu um debate antigo: seria esse evento mais uma das previsões de Nostradamus que se concretizam?A ligação entre o profeta francês do século XVI e episódios históricos sempre gerou fascínio – por vezes tratado com ceticismo, outras com deslumbramento.Suas quadras, de interpretação ambígua, parecem cruzar os séculos com referências a guerras, líderes, tragédias e revoluções. Mas até que ponto ele realmente antecipou os eventos do mundo moderno?Michel de Nostredame, conhecido como Nostradamus, nasceu em 1503 e publicou em 1555 a obra “Les Prophéties”. O livro reúne centenas de quadras – versos curtos e enigmáticos – escritas em francês arcaico, latim e mesmo em trocadilhos ocultos.Seus seguidores acreditam que ali estão previsões sobre grandes eventos mundiais. Céticos dizem que são apenas versos vagos, abertos a interpretações. Ainda assim, o nome Nostradamus se tornou sinônimo de profecia e, para muitos, ele antecipou alguns dos eventos mais marcantes da história moderna.O Papa Francisco, eleito em 2013, rompeu paradigmas ao assumir um papado mais voltado à simplicidade e à inclusão. Seu falecimento em 2025 provocou luto global e foi imediatamente relacionado a uma quadra de Nostradamus que mencionaria “o velho pastor” morrendo em Roma.Embora imprecisa, essa associação reforçou o imaginário de que o profeta teria previsto também esse fim. Francisco deixa como legado um pontificado que buscou reformar a Igreja por dentro – e, ironicamente, pode ter seu fim reinterpretado à luz de um vaticínio secular.Entre os versos de Nostradamus, há menções à queda de reis e à ascensão de um líder militar carismático vindo do povo – elementos que muitos associam à Revolução Francesa e à trajetória de Napoleão Bonaparte.A revolta de 1789 mudou para sempre a política europeia, levando à decapitação de Luís XVI e ao fim do Antigo Regime. Napoleão, surgido das fileiras militares, assumiu o poder e se proclamou imperador em 1804. Os intérpretes de Nostradamus veem ali um prenúncio de sua glória – e de sua queda.Quando as torres do World Trade Center vieram abaixo em 11 de setembro de 2001, muitos recorreram aos textos de Nostradamus. Quadras que falavam de “fogo do céu” e “duas grandes rochas destruídas” foram rapidamente atribuídas à tragédia em Nova York.A precisão é discutível, mas o impacto cultural é inegável. O atentado mudou o mundo, provocou guerras, alterou fronteiras diplomáticas e reformulou o conceito de segurança global. Se Nostradamus previu ou não, o 11 de Setembro entrou para a história como um dos eventos mais traumáticos do século XXI.Em seus escritos, Nostradamus parece aludir a um “grande conflito mundial” com milhões de mortos e um “líder de ferro” assolando a Europa.Muitos apontam para a Segunda Guerra Mundial, que começou em 1939 com a invasão da Polônia e terminou apenas em 1945, após o uso das bombas atômicas. Foi o conflito mais letal da história, com mais de 70 milhões de vítimas.Suas consequências moldaram o mundo contemporâneo – e reforçaram a crença de que algumas das quadras do profeta estariam profundamente conectadas a essa tragédia.A figura de Adolf Hitler também é frequentemente mencionada nas análises das profecias. Em uma quadra, há referência a “Hister”, que alguns acreditam ser um anagrama ou erro deliberado para esconder o nome do ditador alemão.O termo aparece em um contexto de guerra e destruição vindo da Europa Central. Hitler conduziu o mundo à guerra, instituiu o terror do Holocausto e caiu em 1945. Para os seguidores de Nostradamus, a semelhança é perturbadora demais para ser apenas coincidência.Outra quadra que chama a atenção menciona “a cidade que arderá até o amanhecer”. Os estudiosos associam esse trecho ao Grande Incêndio de Londres, que começou em setembro de 1666 e destruiu boa parte da cidade em poucos dias.A tragédia coincidiu com o ano “três vezes seis”, outro elemento que alavanca o misticismo em torno de Nostradamus. Ainda que não tenha nomeado Londres, a descrição de uma cidade em chamas é considerada por muitos como premonitória.Em 1997, a princesa Diana morreu em um acidente de carro em Paris. Uma quadra que menciona “a estrela do povo se apagando sob o céu noturno” passou a circular como mais uma evidência de premonição. A tragédia comoveu o mundo, e a associação ao profeta francês apenas amplificou o tom místico da perda.Em 1969, a humanidade pisou na Lua pela primeira vez. Há quadras que falam sobre o homem “deixando seu mundo para tocar os céus prateados”. Embora poético, esse trecho é interpretado por alguns como uma menção ao feito histórico da missão Apollo 11.O bombardeio de Hiroshima, em agosto de 1945, marcou o início da era nuclear. Alguns leitores de Nostradamus acreditam que quadras mencionando “fogo maior que o sol” e “cidades calcinadas” seriam referências veladas à tragédia atômica. É uma associação comum, ainda que controversa.A figura de Nostradamus permanece no limiar entre a poesia e a profecia. A morte do Papa Francisco, como tantos outros episódios históricos, alimenta a narrativa de que ele teria previsto o futuro.A verdade, no entanto, pode estar no poder das palavras: versos ambíguos, lidos à luz das emoções, têm a força de moldar significados. Nostradamus talvez não tenha previsto o amanhã – mas certamente marcou o presente com a força da dúvida e da imaginação.