Capitais que fogem do padrão: o que une as ilhas dos manezinhos e capixabas além do óbvio

Capitais que fogem do padrão: o que une as ilhas dos manezinhos e capixabas além do óbvio – Foto: Allan Carvalho/PMF/ND
Separadas por mais de 1.680 quilômetros de distância, Florianópolis (SC) e Vitória (ES) compartilham características únicas entre as 27 capitais brasileiras. Ambas estão localizadas em ilhas e, curiosamente, não são as cidades mais populosas de seus respectivos estados – algo exclusivo entre as capitais do país.

As semelhanças, no entanto, não param por aí. As duas cidades têm ligação com o continente por pontes que viraram cartões-postais e têm vocação turística, com paisagens naturais exuberantes, além de no passado terem vivido disputas territoriais intensas.
Ilhas-capitais do Brasil
Vitória, junto de Florianópolis e São Luís (MA), forma o trio de ilhas-capitais do Brasil. A capixaba está situada em uma ilha de cerca de 90 km², mas o município como um todo abrange 105 km², com 33 ilhas e uma parte continental. Já Florianópolis, conhecida como a “Ilha da Magia”, é ainda maior em extensão: são 674,8 km², com cerca de 97% do território também em uma ilha.
Uma das melhores praias de Florianópolis, Canasvieiras é cheia de atrações para curtir o verão – Foto: Allan Carvalho/PMF/Divulgação
Enquanto Vitória tem cerca de 322 mil habitantes, segundo dados de 2022, Florianópolis ultrapassou os 576 mil em 2024. Mesmo assim, ambas perdem o posto de mais populosas dos estados para Serra (ES) e Joinville (SC), respectivamente.

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Vitória, capital do Espírito Santo – Secom/Divulgação/ND

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Praia do Canto com vista para Ponte de Camburi e Praia de Camburi ao fundo – Diego Alves/Divulgação/ND

Pontes que ligam mais que dois lados
Outro ponto de comparação entre as capitais está nas pontes. Em Florianópolis, a Ponte Hercílio Luz, inaugurada em 1926, é um dos maiores símbolos da cidade. Declarada patrimônio histórico em 1997, passou por uma longa restauração de 14 anos e foi reaberta em 2019. Hoje, serve exclusivamente para pedestres, ciclistas e transporte público.
Ponte Hercílio Luz impressiona pela sua imponência – Foto: Divulgação/PMF/ND
Já em Vitória, a Ponte da Passagem, também chamada de Carlos Lindenberg, é uma das sete que ligam a ilha ao continente. Inaugurada em 2009, possui estrutura moderna com 270 metros de extensão e 32 cabos de aço que sustentam dois tabuleiros suspensos. Ao lado, a Passarela Maurício de Oliveira permite a travessia segura de pedestres e ciclistas.

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Ponte também é um dos cartões-postais da cidade – Secom/Divulgação/ND

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A Ponte da Passagem também é chamada de Carlos Lindenberg – Secom/Divulgação/ND

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Quando estrutura ainda estava em construção – Secom/Divulgação/ND

História marcada por disputas e reconstruções
As duas capitais têm origens no período colonial e surgiram em meio a conflitos. Vitória foi fundada em 1551 após uma batalha contra os indígenas goitacazes – vitória que deu nome à cidade. Já Florianópolis teve início com o povoado de Nossa Senhora do Desterro, fundado por Francisco Dias Velho em 1675. Ele foi assassinado por piratas anos depois, o que quase levou à extinção da comunidade.
Ambas cresceram a partir da presença portuguesa, com construção de fortificações e chegada de colonos açorianos (em Florianópolis, a partir de 1748). Os traços culturais desses imigrantes permanecem nas duas cidades.
Cultura, tradição e identidade
Em Vitória, um dos principais símbolos culturais é a produção artesanal de panelas de barro, feitas por mulheres da comunidade de Goiabeiras com técnicas herdadas dos povos indígenas. Desde 1992, a cidade realiza a Festa das Paneleiras, que celebra essa tradição.
Em Florianópolis, a tradição oral ganhou forma no livro “O Fantástico na Ilha de Santa Catarina”, de Franklin Cascaes, com lendas de bruxas, fantasmas e criaturas místicas – reforçando o apelido de “Ilha da Magia”.
Manezinhos e capixabas
Florianópolis e Vitória também se destacam pelos apelidos dados a seus moradores.
Em Florianópolis, o termo “manézinho” é amplamente usado para se referir aos nativos da cidade. A origem vem do nome Manuel, bastante comum entre os imigrantes açorianos que chegaram à Ilha de Santa Catarina no passado.
Como muitos homens se chamavam Manuel, era comum usar a forma diminutiva “Manuelzinho”, que com o tempo foi reduzida a “manézinho”. Hoje, a expressão representa uma identidade cultural, associada ao sotaque típico, ao modo de vida e às tradições locais.
Já em Vitória — e em todo o Espírito Santo — os moradores são chamados de capixabas. O termo tem raízes na língua tupi: significava “roça” ou “roçado”, especialmente as áreas onde os indígenas cultivavam milho e mandioca.
Inicialmente, a população de Vitória passou a usar “capixaba” para se referir aos indígenas da região. Com o tempo, a palavra passou a denominar todos os moradores do estado, carregando hoje um forte sentimento de pertencimento e regionalismo.

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