Quem é Alexandre Ramagem, o ex-diretor da Abin e aliado de Bolsonaro – Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Alexandre Ramagem é ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e atualmente deputado federal pelo Rio de Janeiro. Próximo de Jair Bolsonaro, Ramagem é réu nos processos relacionados ao 8 de janeiro e à suposta conspiração para um golpe de Estado que impedisse a posse do presidente Lula.
Antes de entrar na política, Ramagem fez carreira na PF, onde atuou como delegado desde 2005. Em 2018, ganhou destaque ao chefiar a segurança de Jair Bolsonaro após o atentado a faca durante a campanha eleitoral. A partir dali, se aproximou da família Bolsonaro e passou a ser uma figura de confiança do então presidente.
Alexandre Ramagem: o quase diretor-geral da PF
Em 2020, Bolsonaro tentou nomear Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal. O nome chegou a ser publicado no Diário Oficial da União, mas a posse foi suspensa no dia seguinte pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
O motivo foi uma ação movida pelo partido PDT, que alegava conflito de interesses por conta da proximidade entre Ramagem e a família Bolsonaro. Outros partidos, como PSOL e Rede Sustentabilidade, também tentaram impedir a nomeação na Justiça.
Alexandre Ramagem é deputado federal pelo Rio de Janeiro – Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
A nomeação de Ramagem para a PF ocorreu logo após a demissão do então diretor-geral Maurício Valeixo, o que provocou a saída do ex-ministro da Justiça Sergio Moro do governo Bolsonaro. Moro acusou o presidente de tentar interferir politicamente na Polícia Federal.
Após a suspensão, Bolsonaro cancelou oficialmente a nomeação, mas chegou a dizer que ainda sonhava em vê-lo no comando da PF.
Ligação com a família Bolsonaro
Alexandre Ramagem é próximo dos filhos de Bolsonaro, especialmente Carlos Bolsonaro. Os dois passaram juntos o réveillon de 2019 e foram vistos em diversas ocasiões. Bolsonaro chegou a afirmar que Ramagem frequentava sua casa com frequência e que confiava plenamente nele.
“Ele era uma pessoa da minha confiança. Por que eu não indicaria alguém assim para um cargo importante?”, disse o ex-presidente na época.
Jair Bolsonaro cumprimenta o então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem – Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Carreira no governo e na Abin
Alexandre Ramagem foi nomeado em março de 2019 para trabalhar como assessor na Secretaria de Governo, que fica dentro do Palácio do Planalto. Mesmo com a troca de ministros, ele foi mantido no cargo.
Pouco tempo depois, em julho de 2019, Bolsonaro o escolheu para ser diretor da Abin, órgão responsável por produzir informações estratégicas para o governo.
Durante sua gestão na Abin, Ramagem ficou sob o comando direto do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), então chefiado pelo general Augusto Heleno. Ele permaneceu no cargo até março de 2022, quando se afastou para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Foi eleito pelo PL com cerca de 59 mil votos.
Antes de entrar para o governo, Ramagem ocupou cargos importantes dentro da Polícia Federal. Ele foi chefe das divisões de Recursos Humanos e de Estudos e Pareceres Jurídicos. Também participou da organização da segurança em grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014, as Olimpíadas de 2016 e a conferência ambiental Rio+20.
Réu em suposta trama golpista
Alexandre Ramagem (PL-RJ) está sendo acusado pela PGR de participar de um plano para tentar impedir a posse do presidente Lula, após as eleições de 2022. Segundo a investigação, ele fazia parte do grupo central dessa tentativa de golpe, o “núcleo 1” ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
No dia 21 de novembro de 2024, Ramagem foi indiciado, junto com Bolsonaro e outros ex-integrantes do governo, pelos crimes de:
Organização criminosa;
Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
Tentativa de golpe de Estado;
Dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União;
Deterioração de patrimônio tombado.
Além disso, em abril de 2025, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, aceitou a denúncia e abriu um processo criminal contra Ramagem e mais sete pessoas.
Ramagem é réu em suposta trama golpista – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O caso ganhou um novo capítulo quando, em 7 de maio de 2025, a Câmara dos Deputados decidiu, por 315 votos a 143, suspender o andamento do processo no STF. A proposta foi feita pelo PL, partido de Ramagem, e se baseou em um artigo da Constituição que permite ao Congresso parar processos contra deputados, caso os crimes tenham ocorrido depois que eles foram oficialmente eleitos.
O relator do caso na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), deputado Alfredo Gaspar (União-AL), disse que todos os crimes atribuídos a Ramagem teriam acontecido após ele já ser deputado, e por isso o processo deveria ser interrompido. No entanto, o STF não concordou com essa interpretação.
Em 10 de maio, a 1ª Turma do STF decidiu, por unanimidade, que o processo contra Alexandre Ramagem deve continuar no que diz respeito às três acusações ligadas à tentativa de golpe. As outras duas acusações foram suspensas até o fim do mandato dele como deputado. O ministro Alexandre de Moraes ainda reforçou que a regra de suspensão só vale para parlamentares em exercício — o que significa que os demais réus, como Bolsonaro, continuam respondendo normalmente às acusações.