Rubinho Nunes afirma que alvo da CPI dos Pancadões é desvendar atuação do crime organizados nas festas clandestinas – Foto: Lucas Bassi/Rede Câmara SP/ND
Presidente da CPI dos Pancadões na Câmara de São Paulo, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) subiu o tom contra as festas clandestinas nas últimas semanas, passando a utilizar o termo ‘narcocultura’ e acusando os eventos de serem fachadas para movimentação do crime organizado. Parlamentares de oposição pedem cuidado para não haver criminalização de movimentos culturais.
“O pancadão virou vitrine da criminalidade no Brasil. A fachada é cultural, mas a engrenagem é 100% criminosa. O palco é ponto de tráfico. O MC é garoto-propaganda do crime. A música virou propaganda de facção. O algoritmo virou gerente de vendas. Não é festa, é doutrinação. Não é cultura, é estratégia de guerra”, declarou o presidente na reunião desta quinta-feira (5).
Um discurso com teor parecido já havia ocorrido na semana anterior. “Isso não é cultura periférica, as pessoas da periferia, com certeza, não se aliam a esse tipo de bandidagem. Isso é narcocultura, servindo de palanque para o crime organizado.”
CPI dos Pancadões
Oficialmente, a CPI dos Pancadões, primeira sobrevivente da guerra das CPIs na Casa, foi instituída para investigar possíveis omissões do poder público em coibir as festas clandestinas, conhecidas como pancadões, que acontecem ao ar livre, até o amanhecer, ao som de funk nas periferias de São Paulo.
Mas, antes mesmo da instalação, Rubinho Nunes já avisava que seu objetivo era “chegar aos financiadores” e expor “a cadeia criminosa por trás dos pancadões”.
Kenji Ito (Podemos), vice-presidente da CPI, também citou presença de facções na organização dos eventos – Foto: Lucas Bassi/Rede Câmara SP/ND
Vice-presidente da CPI dos Pancadões, Kenji Ito (Podemos) reforçou nesta quinta-feira os planos da comissão. “A CPI precisa desmascarar essa engrenagem que se disfarça de cultura para dominar territórios”, disse. O parlamentar citou durante a reunião que estudo do Ministério Público aponta uma arrecadação anual de R$ 6 bilhões do crime organizado.
A CPI aprovou nesta semana a convocação dos proprietários de dez adegas que serviriam de ponto de encontros para os pancadões em diferentes regiões da cidade, como Paraisópolis, Jardim São Luís, Vila Maria, Jaguaré e Guianases.
Nos encontros anteriores tinham sido convidados ou intimados funkeiros e influenciadores, como Giliard Santos, filho de Deolane Bezerra, MC Ryan SP e MC Dricka. As oitivas devem começar na próxima semana.
Risco de criminalização
Vereadores de oposição ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) na CPI dos Pancadões, Amanda Paschoal (Psol) e Luna Zarattini (PT) tem discursado em tom de preocupação que a CPI dos Pancadões seja utilizada para criminalizar manifestações culturais.
Para a vereador Amanda Paschoal (Psol), falta de políticas públicas e ausência do estado facilitam atuação de organizações criminosas – Foto: Lucas Bassi/Rede Câmara SP/ND
“Não podemos generalizar sobre as manifestações culturais dentro das periferias. Existe, sim, crime organizado, dentro das favelas, dos bares, mas não só lá. E a gente não pode generalizar e garantir que as juventudes negras e periféricas que se manifestam nestes eventos não sejam criminalizadas”, comentou Amanda Paschoal.
A parlamentar criticou a ausência do estado nestas regiões e a falta de políticas públicas de acesso à cultura e vivência de território. Rubinho se defendeu dizendo que não ataca a música e nem o baile — desde que em local fechado, com horário de início e fim.