Maranhão criativo: Como a inovação no empreendedorismo gera renda e transforma realidades


Hamburguer de babaçu, pizza de gongo e bolos ultrarrealistas são exemplos de como uma ideia ‘fora da caixa’ pode ser o diferencial para o sucesso nos negócios. Quem nunca pensou em abrir um negócio fora do comum que gera desconfiança ou até risadas? Mas, e se essa ideia fosse realmente o diferencial para fazer o negócio se destacar e fazer sucesso?
Como muitos que desejam abrir uma empresa, os desafios dos negócios inovadores é superar o medo, mas, no Maranhão, há empreendedores que decidiram seguir em frente e estão realizando o sonho de abrir o negócio do jeitinho que queriam.
🍰 Confeitaria realista: doce reinvenção
Bolo de chuteira? De parede? De bolsa? Os bolos ultrarrealistas da maranhense Mayara Carvalho há anos fazem sucesso em vídeos divertidos nas redes sociais. São mais de 1 milhão de seguidores que viram na maranhense de Alto Alegre uma mulher talentosa e muito esforçada.
“Sou mãe de um adolescente autista e provedora do meu lar através do meu trabalho. Eu sou psicopedagoga, formada e pós-graduada, mas fiquei desempregada. Depois veio a pandemia, e aí foi só superação”, conta Mayara, fazendo referência ao início da vida na confeitaria profissional.
Foi a época em que apenas o talento na confeitaria não era suficiente para alavancar as vendas. A virada de chave veio quando ela viu vídeos de uma confeiteira muçulmana e decidiu aplicar a técnica do realismo nos bolos, sempre com humor e elementos brasileiros.
“Eu vi o movimento caindo, então me reinventei nos bolos e nos vídeos. Deu certo e a inovação para o meu negócio veio de uma forma que mudou completamente minha vida! Entendo hoje que inovar sempre te leva a muitas novas oportunidades e faz total diferença no seu crescimento”
🍕 Pizza de gongo? Isso mesmo!
No município de Caxias, a Pizzaria Paulista é especialista em pizzas de sabores exóticos. Uma ideia inovadora do Bruno, que tem como carro chefe a pizza de gongo, que é literalmente a larva de um besouro que se desenvolve no interior do coco babaçu.
“Eu vi uns gongos e resolvi postar eles na internet. Nos comentários, começaram a sugerir: ‘faz uma pizza de gongo!’”, relata.
Não é que Bruno fez mesmo? Gravou um vídeo preparando a pizza, postou e, quando acordou no dia seguinte, o vídeo tinha viralizado. Milhões de visualizações e uma enxurrada de pedidos.
O sucesso foi tanto que ele decidiu apostar de vez nos sabores exóticos. Além da famosa pizza de gongo, atualmente o cardápio conta com pizza de tripa, panelada, sarapatel e, mais recentemente, uma inusitada pizza de cuscuz, que também virou sucesso.
Como um bom exemplo de como uma ideia inovadora pode mudar realidades, a pizzaria dos sabores ‘diferentões’ já tem atraído turistas para a cidade. Quando bem preparada, o gongo também não faz mal à saúde.
“É uma experiência única”, diz Bruno. “Tem quem diga que não tem coragem de provar, mas quem prova, ama.”
O preço também não assusta: a pizza grande custa R$ 50, e a gigante sai por R$ 60 — apenas R$ 15 a mais que os sabores tradicionais, segundo Bruno. O próximo passo do empreendedor é crescer ainda mais.
“Quero mudar para uma avenida mais movimentada da cidade. Acredito que em cinco anos a gente já vai ter concluído esse objetivo”, planeja.
🍔 Hambúrguer de babaçu: inovação com impacto social e ambiental
Na Amazônia Maranhense, o conhecimento tradicional das quebradeiras de coco se uniu à ciência para criar um produto que tem surpreendido: um hambúrguer vegano feito a partir do mesocarpo do coco babaçu.
O projeto, liderado pela pesquisadora Guilhermina Cayres, da Embrapa Maranhão, envolve diversas associações de mulheres extrativistas, como a Coomavi (Itapecuru-Mirim), o Clube de Mães Quilombolas Lar de Maria (Anajatuba) e a Associação de Quebradeiras de Coco de Chapadinha.
Juntas, essas mulheres, com o apoio da ciência, desenvolveram não só o hambúrguer, mas também farinha de amêndoas, biscoitos, queijos vegetais e até bebidas similares ao leite, tudo a partir do babaçu.
O hambúrguer é estruturado com casca de banana, farinha de arroz e temperos naturais. Resultado: 13,17% de proteína por 100g, sem conservantes e com validade de até seis meses congelado.
Segundo Guilhermina, o produto valoriza a sociobiodiversidade brasileira, gera renda, promove sustentabilidade e ainda oferece uma alternativa nutritiva para quem busca uma alimentação mais consciente.
O projeto foi finalista do Con X Tech Prize: Amazônia, uma competição global que reconhece inovações sustentáveis que protegem os ecossistemas amazônicos e fortalecem as comunidades locais.
🍸Cachaça em boteco? Não, um presente de experiência refinada
Produzida em São Luís, a Santo Ambrósio veio para quebrar paradigmas no Maranhão, uma terra onde a Ana Valéria Ambrósio diz que ainda se vê a cachaça como item de boteco, bebedeira e pouco valor agregado.
Para a empreendedora – uma das raras mulheres em liderança nesse ramo -, era preciso entregar faceta das cachaças que já era comum em outras bebidas: uma experiência sensorial que pode servir de presente, como os vinhos.
“A verdade é que o consumidor de cachaça é um consumidor elitizado. Quem acaba achando que talvez o cachaceiro seja a pessoa que fica embriagada, caída no chão, ele não tem a noção real. A cachaça é o produto mais refinado, tem pouco aldeído, então não causa ressaca”, explica a empreendedora.
Ana Valéria inovou na forma de criar e apresentar a cachaça a seus clientes
Rafael Cardoso/g1 Maranhão
Com três anos de história, Ana entende que ainda há muito caminho a percorrer, mas comemora cada conquista alcançada. Ela conta que o produto já é vendido para clientes em outros estados e agradado os paladares mais exigentes com garrafas elegantes e drinks autorais com ingredientes maranhenses, como mel de Viana e buriti de Barreirinhas.
“A visão criativa fez a diferença. Eu apresentei a qualidade e uma experiência boa. Eu não quero que a pessoa no outro dia amanheça com uma ressaca. Quero que as pessoas entendam a cachaça como um produto refinado, que pode ser presenteado e apreciado com elegância, trazendo uma boa memória afetiva”, finaliza.
📈 Startups maranhenses: criatividade que escala
Criatividade também é matéria-prima das startups, que são os negócios inovadores, geralmente tecnológicos e escaláveis. No Maranhão, esse universo está ganhando cada vez mais terreno, com 545 startups concentradas em 49 cidades, de acordo com o Mapeamento Estadual de Startups 2024, realizado pelo Sebrae.
São Luís lidera com 349, seguida de Imperatriz (44) e Balsas (27). Os setores mais representativos são Educação (12,8%), Tecnologia da Informação (10,5%), Impacto Socioambiental (9,51%), Saúde e Bem-estar (8,78%) e Alimentos e Bebidas (7,68%).
Um exemplo de startup maranhense da área educacional é a TecTeca, que nasceu da inquietação com a falta de conteúdos digitais interativos voltados às crianças da Geração Alpha — nascidas a partir de 2010.
Segundo o CTO e um dos fundadores da startup, Eugênio Furtado, a empresa criou uma biblioteca de livros digitais que teve uma resposta tão positiva nas crianças, que o projeto ganhou vida própria.
“Percebemos a lacuna no mercado editorial e o potencial do formato interativo. A partir daí, buscamos formação em empreendedorismo e participamos de diversos ecossistemas de inovação que foram essenciais para transformar a ideia em negócio”, conta.
A inovação é a espinha dorsal da startup, que reformula o tradicional ato de ler com livros digitais repletos de elementos interativos e responsivos. O enredo é enriquecido com mídias dinâmicas, ampliando o engajamento das crianças em ambientes que estimulam a participação ativa.
Desde o MVP (em português, Produto Mínimo Viável), a TecTeca já passou por editais do Sebrae, participou de eventos como o Startup Summit em Florianópolis e o Neon em Teresina, além de viver uma residência de seis meses no Cordel Hub, em Fortaleza.
“Inovação é a base da TecTeca, visto que trabalhamos com um paradigma secular, que é o ato de ler, e esse leque de editais foi decisivo para nosso crescimento e amadurecimento como empreendedores”, destaca Eugênio.
O objetivo agora é consolidar a empresa como produtora de livros interativos no mercado educacional, firmando parcerias com grandes empresas do setor e transformar o Maranhão em referência nacional em inovação educacional.
Crescimento das startups maranhenses fora do estado
Ainda segundo os dados do Sebrae Maranhão, quase metade das startups (48,99%) do estado ainda está no estágio de ideação (quando a ideia começa a tomar forma), mas 28,15% já estão validando seus produtos no mercado e 13,53% em fase de tração, ou seja, acelerando seu crescimento.
A SYN Saúde, de São Luís, faz parte do grupo de startups que já gerou mais de R$ 100 milhões em orçamentos cirúrgicos e transacionados mais de R$ 30 milhões em cirurgias, por meio da própria plataforma. É um crescimento de 237% em comparação ao mesmo período de 2024, segundo dados da própria empresa.
A startup surgiu para oferecer orçamentos cirúrgicos previsíveis e acessíveis, por meio de uma plataforma que conecta pacientes, médicos e hospitais. A empresa também oferece pagamento por Pix, cartão, boleto e até FGTS, o que tem atraído diversos tipos de clientes.
“Com resultados expressivos e impacto positivo para pacientes, médicos e hospitais, a SYN entrou em nova fase e está agora em plena expansão nacional, testando sua operação em regiões com perfis de acesso à saúde diferentes do Maranhão”, afirma a CEO Ana Lemos.
Atuando também no Sul e Sudeste, recentemente a SYN foi reconhecida com prêmios como o NEon 2024 e o Vumbora, do Banco do Nordeste. A startup também tem buscado se comprometer com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e já doou 12 cirurgias para pacientes em fila do SUS.
Da ideia à nota fiscal: quando o apoio faz a diferença
Uma reclamação constante em muitos pequenos empreendedores é a falta de apoio para a inovação. Diante desse cenário, algumas instituições, como o Sebrae, oferece trilhas de capacitação que vão desde a ideia até a validação do modelo de negócios, passando por branding, gestão financeira e mentorias.
Segundo Isaque Nascimento, superintendente estadual do Banco do Nordeste, a inovação deve ser vista como estratégica. Por isso, é importante que as instituições financeiras disponibilizem crédito com orientação financeira inclusa.
“Negócios criativos ou inovadores têm grande potencial de gerar emprego, renda e expandir mercados. O banco criou um Hub de Inovação justamente para fomentar isso. Mas boas ideias só prosperam se estiverem sustentadas por planejamento, estudo de mercado e viabilidade financeira”, alerta.
Além dos editais regionais, há ainda iniciativas nacionais como o programa Mulheres Inovadoras, da Finep em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, que está com inscrições abertas até 18 de junho. O programa oferece capacitações e mentorias com especialistas, com foco na liderança feminina em startups inovadoras.
Maranhão como Parque Tecnológico e editais de apoio
O Parque Tecnológico de São Luís é um sonho antigo e que diversas instituições buscam torná-la realidade, por entenderem que um ecossistema de inovação robusto traz resultados: como é o caso do Vale do Silício, na Califórnia.
“O futuro da ciência, da tecnologia e da inovação está interligado. Acreditamos que o ecossistema de inovação deve ter base sólida e capilaridade”, diz Nordman Wall, presidente da Fapema.
Segundo Nordman, só os editais da fundação já investiram entre R$ 3 a 4 milhões em startups, com cerca de 300 projetos beneficiados — e ao menos 70 deles ainda em operação.
Esses recursos financiam desde bolsas de apoio técnico a materiais e equipamentos. Os projetos passam por avaliação criteriosa e são selecionados por mérito. No futuro, a ideia é que contribuam para o Parque Tecnológico e ajudem outras startups a nascer.
Best Maragames: democratizando os games
A história da Best Maragames, de São Luís, é das startups apoiadas por editais de fomento/pesquisa que têm se destacado e mostra como um problema pode ser o ponto de partida para uma grande solução.
Jeanne Assunção é uma das gestoras e conta que tudo começou em março de 2022, quando ela e o marido, Jadiel (apaixonado por videogames), decidiram montar um espaço de jogos na sala da própria casa.
Mas, no dia seguinte, veio a notificação do condomínio: deveriam fechar o espaço imediatamente, sob risco de processo. A frustração quase fez o casal desistir. Mas, como Jeanne destaca, “percebemos que estávamos diante de dois grandes problemas: o preconceito e a falta de informação sobre o mercado de jogos digitais”.
Foi então que surgiu a oportunidade de participar do programa Startup Nordeste do Sebrae, que trouxe uma virada de chave e o impulso que eles precisavam para seguir em frente.
“Graças às mentorias, estruturamos nosso negócio. Hoje temos plano de negócios, formalização e visão de mercado”, conta Jeanne.
A empresa oferece uma arena itinerante de games para eventos e promove torneios digitais. Além disso, criou o Educagame, projeto que leva para dentro das escolas não apenas os jogos, mas também palestras sobre o mercado de games, mostrando aos jovens que é possível transformar paixão em carreira.
“Quando se fala em startup, muitos pensam logo em aplicativo. Mas inovação também é sobre novos métodos e modelos de negócio. Levamos os games onde ninguém leva, democratizando o acesso e mostrando o potencial desse setor”, completa Jeanne.
Inovar é estratégico
Para Eduardo Oliveira, superintendente de Políticas de Inovação da SECTI, a inovação não precisa ser complicada para ser eficaz.
“Inovar é surpreender o cliente. Pode ser algo intuitivo, como mudar a forma de atendimento, ou algo estruturado. Mas o essencial é colocar o cliente no centro do negócio e buscar maneiras de encantá-lo todos os dias.”
Essa perspectiva se conecta ao que defende César Guimarães, gerente de Inovação e Tecnologia do Sebrae/MA:
“Inovação não é luxo. É necessidade”. Para ele, o conceito está mais ligado à forma como a empresa entrega valor do que à criação de algo inédito. Personalizar a entrega, otimizar o acesso ao produto ou ressignificar insumos locais são exemplos práticos de como inovar gera renda, reduz desperdícios e abre mercados.
Simone Castilho, cerimonialista com 25 anos de atuação, aponta também como a criatividade maranhense é presente no ramo de eventos.
“Hoje, não seguimos mais apenas o que vem do Sul. Temos um mercado aquecido, que respeita a cultura local e entrega eventos impecáveis”, afirma.
Criatividade que transforma
Apesar de gargalos — como a escassez de mão de obra técnica e a carência de espaços com infraestrutura de ponta —, o Maranhão vive uma fase de expansão em seu ecossistema de inovação. Iniciativas como Startup Nordeste, Nova Amazônia e Nova Cerrado, além de programas locais como o Inova Maranhão e incubadoras universitárias, vêm estimulando soluções criativas com potencial de alcance nacional.
Os dados confirmam essa movimentação: apenas no primeiro trimestre de 2025, o estado registrou mais de 312 mil empresas privadas ativas, sendo 95,32% micro e pequenos negócios. O saldo de novos empreendimentos no período foi positivo: 9.390.
Um futuro possível — e presente
O que essas histórias têm em comum? Gente que não teve medo de começar, que driblou dificuldades e acreditou na força da própria criatividade. Com apoio de instituições públicas, capacitação adequada e crédito acessível, empreender no Maranhão deixou de ser um sonho distante para se tornar um caminho real de transformação — econômica, social e, sobretudo, pessoal.
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