Em uma das situações, com uma arma, acompanhante de paciente disse à equipe que “caso a esposa morresse, alguém ia pagar o preço”. Profissional relata “situação de medo”. Um médico da rede municipal de saúde de Piracicaba (SP) revelou casos recorrentes de violência contra a categoria nas unidades da cidade. Como exemplos, ele citou caso de ameaça com arma e invasão de unidade de saúde com ofensas.
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O Estado de São Paulo concentra quase a metade dos casos de violência contra médicos denunciados à Polícia Civil no Brasil entre 2013 e 2024, segundo um mapeamento inédito, divulgado nesta terça-feira (22), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). No Estado de São Paulo, foram 18 mil dos 38 mil registrados.
O clínico geral Feliph Miqueias Alcantara de Souza é médico há quatro anos e atua na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Piracicamirim, em Piracicaba, com urgência de emergência, que é um setor que recebe pacientes em estado grave com frequência.
“Isso coloca toda a família e todos os envolvidos, inclusive aqueles que estão prestando atendimento, numa situação de muita emoção. Então, às vezes, os ânimos se exaltam e, infelizmente, é com certa frequência que nós vemos sofrendo certas agressões verbais, já chegaram a ter agressões físicas na nossa unidade”, contextualiza.
Feliph relata que, em um dos casos, um homem levou sua esposa para atendimento e ficou alterado.
“Esse acompanhante estava armado. E, porque ele estava aguardando a transferência da esposa para um hospital, ele começou a gritar e coagir as pessoas, de forma indireta, mas levantando a blusa para mostrar que estava armado, e falando que, caso a esposa morresse, que alguém ia pagar o preço”, detalha.
Clínico geral Feliph Miqueias Alcântara de Souza, de Piracicaba
Edijan Del Santo/ EPTV
O profissional explica que, na ocasião, existiam outros pacientes com prioridade maior para atendimento, por estarem em situações mais graves, e revela que isso causa uma “situação de medo”. “Fica difícil até continuar o tratamento”.
Ele explica que existe nas unidades um processo de triagem, que segue uma escala internacional para classificar quem vai ser atendido primeiro de acordo com a gravidade de seu caso.
Invasão e ofensas
Feliph conta também que, nesta semana, dois acompanhantes de pacientes invadiram a unidade de saúde.
“Começaram a filmar a nossa equipe, acusando todos aqueles que estavam sendo filmados de vagabundos, que não estavam trabalhando, isso e aquilo, em decorrência de uma demora no atendimento”.
ARQUIVO: Pacientes durante espera por atendimento em UPA de Piracicaba
Edijan Del Santo/EPTV
Situações relacionadas a políticas públicas
O profissional ressalta que há vários exemplos de ataques a médicos relacionados à gestão pública, que diz respeito à Secretaria de Saúde, e não à equipe que está atuando.
“São coisas que estão relacionadas a um âmbito maior do que aqui dentro da UPA [Unidade de Pronto Atendimento]. Gestão pública para melhorar a rapidez, aumentar o número de profissionais, para que a gente não tenha tanta demora, aumentar o número de vagas dos hospitais, redimensionar as estruturas, porque a cidade continua crescendo […] E eles [pacientes que atacam os servidores da unidade] vêm nos apedrejar, vêm cobrar da gente que está aqui no campo de batalha, na trincheira”.
A Secretaria de Saúde informou que oferece apoio jurídico aos médicos nos casos de agressão registrados na rede pública.
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