Futuro vice-prefeito da cidade de São Paulo afirmou em setembro que pretende instaurar uma “guarda padrão Rota”. Coronel Mello Araújo e o então presidente Jair Bolsonaro, no Ceagesp, em dezembro de 2020
Alan Santos/PR
Coronel aposentado da Polícia Militar e ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), Ricardo Augusto de Mello Araújo (PL) é o futuro vice-prefeito da cidade de São Paulo. Ele disputou a eleição municipal na chapa de Ricardo Nunes (MDB), que foi reeleito com 59,35% dos votos.
Mello Araújo, de 53 anos, vem de uma família de militares e foi a terceira geração a atuar na segurança pública de São Paulo.
Em 2020, ele foi convidado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) a assumir a presidência do Ceagesp. Quatro anos depois, foi indicado para compor a chapa de Nunes na disputa pela prefeitura da capital paulista, em troca de apoio político.
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Conservador, o coronel Mello Araújo se colocava como o representante da direita na corrida eleitoral, afirmando ter sido escolhido pelo ex-presidente para ser seus “olhos, ouvidos e braços” no Executivo da maior cidade do país. (Leia mais sobre a relação dos dois abaixo).
Assim como seu padrinho político, o coronel também acredita que população armada seja sinônimo de uma sociedade segura, e utiliza os Estados Unidos como exemplo disso.
Em entrevista à Folha de S. Paulo no mês de setembro, Mello Araújo declarou que optou por não vacinar os filhos contra a Covid-19 e questionou a eficácia dos imunizantes utilizados no combate à doença. Ele também defendeu a atuação do ex-presidente durante a pandemia.
No mesmo mês, antes do primeiro turno, o coronel afirmou ao portal Terra que, caso eleito, pretendia instaurar uma “guarda padrão Rota” na capital paulista — historicamente, o batalhão da Rota é apontado como um dos mais letais de São Paulo.
“Tenho um prêmio que foi do Instituto Sou da Paz, onde a gente aprende a diminuir o crime sem o uso de violência. Além disso, vou fazer uma guarda muito forte, uma guarda reconhecida, uma guarda padrão Rota. A nossa ideia é valorizar a categoria, para que a gente trabalhe com qualidade, para que eles sejam reconhecidos e a população comece a enxergar a organização de uma forma melhor”, disse ao portal.
Ainda como comandante da Rota, em 2017, o futuro vice da cidade se envolveu em uma polêmica ao diferenciar uma abordagem policial realizada no Jardins e na periferia em declaração feita em entrevista ao UOL.
“Você pega o policial que trabalha nos Jardins, a forma como ele vai lidar com a comunidade ou com as pessoas que transitam por lá é totalmente diferente do policial que trabalha na periferia. Ele usa a mesma técnica, vai trabalhar com a mesma doutrina, mas a forma de se abordar e de se falar com a pessoa é diferente. Porque aquela comunidade numa região periférica, se eu colocar o policial do Jardins pra trabalhar, ele vai ter, no começo, uma dificuldade pra se adaptar a essa realidade. É uma outra realidade, são pessoas diferentes que transitam por lá. Se ele for abordar a pessoa da mesma forma que abordaria uma pessoa no Jardins, ele vai ter dificuldade, ele não vai ser respeitado. Da mesma forma, se eu coloco um da periferia pra lidar, falar da mesma forma, com a mesma linguagem que uma pessoa da periferia fala aqui no Jardins, ele pode ser grosseiro com uma pessoa do Jardins que tá ali andando. Até a forma de falar, o policial tem que se adaptar àquele meio que ele tá naquele momento.”
Durante a participação em um podcast policial, no último mês de agosto, o coronel relembrou a fala e negou as acusações de que estaria defendendo um tratamento diferenciado da PM nas áreas nobres de São Paulo.
Ele afirmou que estava apenas relatando que existem protocolos diferentes para cada situação, o que inclui desde linguagem corporal ao uso de gírias e expressões para se comunicar com as diferentes realidades.
Relação com Bolsonaro
Coronel Mello Araújo prestando continência ao então presidente Jair Bolsonaro, no Ceagesp, em dezembro de 2020
Alan Santos/PR
Ainda durante a participação no podcast policial, Mello Araújo contou que, em 2018, votou em Bolsonaro para a presidência da República. “Ele é um cara honesto e a gente precisa de gente como ele pra tá à frente do nosso país”.
Também afirmou que seu padrinho político é o único líder da direita brasileira. “Hoje, quem representa a direita no Brasil só tem um homem, é o Jair Messias Bolsonaro. Mais ninguém representa a direita, o resto é tudo conversa”.
Bolsonaro declarou apoio à chapa composta por Ricardo Nunes e Mello Araújo no primeiro turno, mas, aos poucos, desapareceu da campanha. Após o resultado da eleição ter sido confirmado, neste domingo, Nunes chamou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de “líder maior”, sem fazer menções ao ex-presidente.
Na manhã desta segunda (28), o prefeito reeleito foi questionado sobre o afastamento de Bolsonaro e a aproximação de Tarcísio, durante entrevista à GloboNews. Em sua resposta, o emedebista voltou a tecer elogios ao governador e disse que “na eleição a lealdade é fundamental”, sem citar o nome do padrinho político de seu vice.
Papel do vice
Ricardo Nunes (MDB) abraça o vice, coronel Mello Araújo, após confirmação de vitória nas eleições
Fábio Tito/g1
De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP), as atribuições dos vices-prefeitos são determinadas pela Lei Orgânica de cada município.
A principal função do vice-prefeito é assumir o comando da prefeitura caso o chefe do Executivo municipal tenha que se ausentar do cargo por alguma razão, seja por questões de saúde ou por viagens para fora se seus limites administrativos (do município que comanda).
Nesses quase 200 anos de administração municipal*, a capital paulista já ficou sob comando temporário de vices em 89 ocasiões, em períodos que variaram de 1 a 25 dias.
O vice também pode assumir algum cargo dentro da administração municipal, mas desde que seja nomeado pelo prefeito.
Mello Araújo será o 28º vice-prefeito de São Paulo. Em entrevista à TV Globo, nesta segunda, Ricardo Nunes disse que ainda não conversou com o vice sobre suas funções no futuro mandato, mas acredita que ele possa ter “uma secretaria executiva para cuidar de pontos específicos”.
“Acho que uma secretaria executiva que ele possa me ajudar é na questão da Segurança Pública, pode estar ajudando a questão da zeladoria, ou seja, acompanhar mais de perto algumas políticas públicas que a gente está desenvolvendo e vai desenvolver mais específicas, eu chamo de ações prioritárias”, afirmou Nunes.