Kamala Harris, do Partido Democrata, e Donald Trump, do Partido Republicano, lutam voto a voto pela presidência dos Estados Unidos nesta corrida eleitoral. A disputa entre Kamala e Trump, assim, é mais uma entre democratas e republicanos, que dominam a política norte-americana há muito tempo. O último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano foi Millard Fillmore, do Partido Whig.
Por sinal, o Partido Whig teve uma ascensão meteórica nos Estados Unidos, mas também rapidamente perdeu força. De qualquer maneira, é o grupo com o último presidente dos EUA que não foi um Democrata ou Republicano, em um contexto marcado pela diferença de ideias e valores entre os estados do Sul e do Norte.
Presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano: Millard Fillmore assumiu a presidência dos Estados Unidos em 1850 – Foto: Casa Branca / Divulgação
Eleito como vice-presidente, Millard Fillmore assumiu a presidência após a morte do General Zachary Taylor e buscou resolver as diferenças políticas entre os estados norte-americanos. Fillmore perdeu força política rapidamente. Ele é o último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano.
Já houve presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano?
O sistema bipartidário e a história política dos Estados Unidos
O Partido Democrata e o Partido Republicano dominam o cenário político norte-americano e são os principais partidos políticos dos EUA. O sistema eleitoral dos Estados Unidos favorece esse “bipartidarismo”, mesmo tendo outros partidos, além de candidatos independentes. Assim, faz tempo do último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano.
Presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano: domínio desde 1852 | Foto: iStockphoto/ND
O fato de a eleição não ter segundo turno, a independência de cada estado e o Colégio Eleitoral contribuem para o domínio democrata e republicano nos Estados Unidos. Sociólogo francês, Maurice Duverger, autor do livro “Partidos Políticos”, aponta que a votação realizada em um turno leva a tendência ao dualismo partidário, o que acontece nos Estados Unidos e passa a impressão de sistema bipartidário americano.
Assim, o Partido Democrata e o Partido Republicano dominam a história política dos Estados Unidos há mais de um século. O último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano remonta a 1848.
Millard Fillmore e o partido Whig dos EUA
O Partido Whig nasceu em 1833, sendo uma espécie de sucessor do Partido Federalista, e se estabeleceu como oposição ao governo de Andrew Jackson. O Whig se tornou o principal opositor do Partido Democrata e logo ganhou relevância na política americana no século XIX, sendo o partido com o último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano.
Como uma das principais bandeiras, o Partido Whig defendia um governo federal forte e soberano e era favorável à industrialização dos Estados Unidos e a tarifas protecionistas para os estados do Norte.
O Whig logo conseguiu uma vitória expressiva e, em 1840, elegeu William Henry Harrison como presidente. Entretanto, ele faleceu 32 dias após assumir a presidência, vítima de pneumonia. Assim, o vice John Tyler foi alçado à posição. Posteriormente, foi expulso do partido em função de discordâncias políticas.
Na disputa seguinte, o Partido Democrata voltou ao poder com James K. Polk. Para a eleição de 1848, o Whig escolheu o General Zachary Taylor, um herói de guerra, como candidato à presidência. Ele venceu a disputa, com Millard Fillmore como vice.
Em 1850, após a morte de Taylor, Millard Fillmore assumiu a presidência. Ele é o último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano.
Quem foi Millard Fillmore? O último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano
Nascido em 1800, uma área conhecida como Finger Lakes, uma região de Nova York, Millard Fillmore trabalhou na fazendo do pai. Posteriormente, em 1823, ele passou na Ordem dos Advogados. Sete anos mais tarde, ele foi para Buffalo, onde exerceu a advocacia.
Millard Fillmore: o último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano – Foto: Casa Branca / Divulgação
Millard Fillmore não demorou a entrar na vida política. Vinculado ao Partido Whig, ele se elegeu para a Assembleia de Nova York e para o Congresso. Desta forma, foi representante do estado por dez anos. Em 1848, quando estava à frente da Controladoria de Nova York, que supervisiona as finanças, concorreu como vice-presidente de Zachary Taylor.
A ascensão de Millard Fillmore Partido Whig à presidência representou uma guinada política nos Estados Unidos. Isso porque o país estava mergulhado no debate em relação ao Compromisso de 1850, um conjunto de projetos de lei que visava atenuar os conflitos entre estados do Norte e do Sul.
Ao assumir a presidência, Fillmore anunciou apoio ao Compromisso de 1850 e passou a trabalhar para aprová-lo, o que resultou em uma crise no Partido Whig e teve repercussão para o último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano. Ele não conseguiu apoio para a eleição de 1852.
Entre os principais pontos aprovados com o apoio de Fillmore no contexto do Compromisso de 1850, o reconhecimento da Califórnia como um estado, a concessão de status territorial ao Novo México e a definição da fronteira do Texas se destacam.
O contexto norte-americano também fervilhava em relação à escravidão. Um dos pontos do Compromisso de 1850 estabelecia que agentes federais ficariam à disposição de escravizadores para ajudar a capturar escravos fugitivos. Conhecida como Lei do Escravo Fugitivo, essa medida também pesou para o veto ao nome de Fillmore para a eleição de 1852.
Já outra medida sancionada por Millard Fillmore no cenário do Compromisso de 1850 aboliu o comércio de escravos em Columbia.
Posteriormente, Millard Fillmore se recusou a se juntar ao Partido Republicano. Em 1856, ele se filiou ao Partido Know Nothing e concorreu à presidência, mas não teve sucesso naquela eleição.
Millard Fillmore foi o 13º presidente dos Estados Unidos e o último presidente dos EUA sem ser Democrata ou Republicano. Ele faleceu em 1874.
A ascensão e queda do Partido Whig
Tal qual a ascensão, a queda do Partido Whig nos Estados Unidos também foi em ritmo acelerado. O partido responsável pelo último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano era considerado heterogêneo. Assim, mesmo nas vitórias havia brigas políticas internas. A expulsão de John Tyler é um exemplo do contexto complicado do Whig.
Eleição norte-americana em foco: o último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano | Foto: iStockphoto/ND
Entre as discussões e visões diferentes entre estados do Norte e do Sul, o Whig se consolidou como uma força na política norte-americana, a ponto de ganhar duas eleições.
Contudo, o partido também não demorou a perder força. Em 1852, apostou em outro herói de guerra na eleição. Entretanto, o desempenho do General Winfield Scott foi insatisfatório. O democrata Franklin Pierce conquistou 85,8% do Colégio Eleitoral e se elegeu. O Whig, assim, começou a colapsar e também está na galeria de partidos extintos dos EUA.
A partir de 1850, partidos menores começaram a ganhar destaque, como o Abolicionista e Solo Livre. Isso forçou um reagrupamento dos partidos maiores. Além disso, o Whig perdeu a capacidade de se manter como uma oposição forte ao Democrata.
Outro fator preponderante para a queda do Partido Whig foi a ascensão do Partido Republicano, criado em 1854, com dissidentes do Partido Whig e Partido Democrata. Mas o Whig está na história com presidentes eleitos por partidos extintos nos EUA.
A importância histórica do último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano
O último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano reflete a efervescência política norte-americana em meados de 1850. Aquele contexto não demorou a deflagrar um conflito interno. A Guerra de Secessão aconteceu de 1861 a 1865 entre as regiões do Sul e do Norte dos Estados Unidos.
A própria gestão de Millard Fillmore presidente é marcada pelas tensões entre os estados do Sul e do Norte naquele contexto político do século 19 nos Estados Unidos. Além disso, o cenário partidário passava por transformações, com a consolidação do Democrata e posteriormente do Republicano.
De 1852 para cá, democratas e republicanos dominam o cenário político e se alternam no poder, em um dualismo enraizado que impede o crescimento de outras alternativas e possibilidades de presidentes dos EUA fora do bipartidarismo.
Existem chances para um presidente fora dos dois grandes partidos atualmente?
A história e o longo período do último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano reforçam que uma vitória que não seja democrata ou republicana é algo improvável na política norte-americana. Em 2024, Kamala Harris, representante do Democrata, e Donald Trump, do Republicano, são os principais nomes da disputa presidencial.
Trump e Kamala são os principais nomes da atual corrida presidencial norte-americana | Foto: AFP/ND
As projeções vêm mostrando equilíbrio na corrida de 2024, que teve a particularidade da desistência do presidente Joe Biden, que seria candidato à reeleição. O contexto norte-americano está cada vez mais polarizado.
Entretanto, as alternativas ao Partido Democrata e Republicano, além da pluralidade democrática, exercem um papel fundamental nas urnas, especialmente em um cenário equilibrado entre Kamala e Harris no contexto que envolve presidência e sistema partidário dos EUA.
Com as regras do Colégio Eleitoral, um candidato de outro grupo político pode atrapalhar os planos de democratas e republicanos nas urnas e conseguir um percentual suficiente para impedir a vitória de um dos favoritos em determinado estado.
Assim, por mais que a chance de vitória de uma via alternativa seja praticamente impossível, os candidatos de partidos menos relevantes têm um papel importante na democracia norte-americana.
Presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano: o impacto histórico de Millard Fillmore e o Partido Whig
O último presidente dos EUA que não foi Democrata ou Republicano significou o derradeiro ato expressivo do Whig, marcado por uma ascensão meteórica e uma queda rápida no cenário político dos Estados Unidos.
Millard Fillmore perdeu força política logo após ocupar a presidência norte-americana. O Partido Whig, que já enfrentava conflitos internos, não conseguiu se reagrupar e não acompanhou o debate político do país.
Entretanto, de qualquer maneira, o Partido Whig está na história dos presidentes dos EUA por ter vencido duas eleições e ter sido um grande opositor do Democrata.
