Artista santareno sofre ataques em rede social após atuar como jurado em festival de quadrilhas em Itaituba


Anderson Pereira começou a sofrer ameaças nos últimos dias, devido seu posicionamento antirracista em uma das apresentações do evento. Anderson Pereira antropólogo e artista plástico santareno
Arquivo pessoal
Convidado para ser jurado de um festival de quadrilhas realizado na cidade de Itaituba, sudoeste do Pará, o santareno Anderson Pereira que é antropólogo e artista plástico, começou a sofrer ameaças nos últimos dias em suas redes sociais, devido seu posicionamento antirracista em uma das apresentações.
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A competição aconteceu no último sábado (22), e de acordo com o relato do artista, no meio de uma apresentação, uma boneca com características de mulher preta foi utilizada por um dançarino, representando a mulher nordestina. Durante essa apresentação, uma música que tinha frases ofensivas como “essa morena é o cão chupando manga”, foi utilizada, fato que o jurado analisou como racismo estrutural. (veja o vídeo abaixo)
VÍDEO: apresentação durante festival de quadrilhas em Itaituba
“Eu julguei como racismo estrutural porque estava esteriotipando o corpo da mulher negra, como um objeto para se fazer rir. Só que durante meu julgamento eu não julguei eles como racistas, eu disse que ali estava sendo operado o racismo estrutural talvez por falta de conhecimento. Mas aí não poderia deixar passar batido sem fazer essa análise, por isso registrei a minha nota e coloquei as observações sobre isso”, explicou Anderson.
Entretanto, as observações e a nota não foram bem interpretadas pelos participantes que afirmaram que alguém havia manipulado Anderson para dar essa nota, e os ataques iniciaram. Integrantes da quadrilha começaram a fazer comentários com ameaças em uma rede social de Anderson. Além dele, sua mãe também recebeu áudios com insultos e ameaças. Uma foto dele também foi compartilhada com insultos. A situação levou o artista a bloquear as contas, restringir comentários e registrar um boletim de ocorrência na polícia.
Anderson recebeu ameaças em comentários e mensangens, e teve uma foto compartilhada com insultos
Arquivo pessoal
“Tive que procurar os advogados, já fiz BO, já falei com o delegado e estou amparado juridicamente para as próximas ações, o processo está correndo. Mas espero não seja preciso levar adiante e que isso fique apenas como algo reflexivo para a gente pensar o quanto é importante a gente tá ali fazendo cultura, mas também levando conhecimento, e não potencializando os preconceitos nas artes”, enfatizou Anderson.
Para Anderson, a arte tem o papel de levar descontruções que estão estruturadas na sociedade, como racismo, homofobia, machismo, entre outros. Ele também defende, que as prefeituras deveriam ter uma cláusula nos editais de festivais que proíba manifestações racistas e preconceituosas, e que garanta a proteção dos jurados e dos brincantes para que essas retaliações não ocorram.
“São essas coisas que eu acho que não deveriam acontecer em se tratando de festivais de cultura, mas é porque infelizmente não existe uma política dos nossos municípios da região que discutam essas pautas importantíssimas de pensar cultura não como reprodutora das manifestações racistas estruturais na nossa cidade”, observou.
Anderson defende que além de levar o tema para discussão em fóruns de debate, as prefeituras por meio das suas secretarias de cultura pensem novos modelos de editais que possam reforçar a importância do respeito à diversidade cultural e às raças.
“Eu acho muito importante as prefeituras tomarem medidas para prevenir e evitar esse tipo de situação, e não ficarem com um discurso de ‘a gente não pode fazer nada porque aqui é assim mesmo. Eu acho que isso é muito difícil”, finalizou o artista.
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