Seca na Amazônia: entenda como baixo nível do rio tem ameaçado a navegabilidade e o transporte de cargas em um dos principais corredores logísticos do PA


Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirma ‘um pouco de perda eficiência’ no transporte de cargas devido à situação, mas garante que a competitividade e a capacidade de navegação não foram comprometidas. Situação é vivida no porto de Miritituba, em Itaituba, sudoeste do estado. Seca afeta a navegação do rio Tapajós, no PA
A seca da Amazônia e a falta de chuvas têm prejudicado os rios da região. No Pará, bancos de areia ameaçam a navegabilidade e o volume de cargas precisou ser reduzido, para garantir o transporte de grãos no porto de Miritituba, em Itaituba, sudoeste do estado – confira o vídeo acima.
O porto é considerado um dos principais corredores logísticos para o escoamento de commodities agrícolas do Mato Grosso.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirma um pouco de perda eficiência no transporte de cargas devido à situação, mas garante que a competitividade e a capacidade de navegação não foram comprometidas.
Seca sem precedentes
O secretário de Meio Ambiente e Mineração de Itaituba, Bruno Rolim, diz que há 30 anos nunca tinha visto nada parecido na região.
“Nunca teve uma seca que chegou nessa magnitude aqui. É normal ter época de cheia e época de seca. Isto é natural. Só que esse ano, realmente, a seca foi muito maior do que todos os anos que a gente tem conhecimento”, afirma.
Porto de Miritituba é importante ponto de escoamento de grãos no Pará.
Divulgação
Bruno diz que a seca não afeta apenas a área do porto de Miritituba, mas também ao longo do rio Tapajós, com a presença de vários bancos de areia.
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, houve uma “diminuição significativa do nível do rio, resultando em uma redução do calado” no corredor da BR-163, que se estende desde o rio Tapajós até a cidade de Barcarena, no nordeste do Pará.
“Isso tem levado ao alívio de peso nas barcaças para permitir a navegação em águas mais rasas”, afirmou o Mapa.
Perda de receita
A redução do volume do transporte de grãos também afetou a arrecadação de Itaituba. O município paraense recebe uma taxa por tonelada de grãos embarcados e desembarcados.
“À medida que diminui o embarque e desembarque de carga, diminui também a arrecadação do município, que hoje recebe um valor por tonelada de grãos”, explica o secretário de Meio Ambiente.
O rio Tapajós divide a cidade de Itaituba e o distrito de Miritituba, onde fica o porto. Quem chega na zona portuária e quer ir ao município precisa pegar balsas. Com o número crescente de bancos de areia, a navegação ficou prejudicada.
Vista aérea de Itaituba.
Marco Santos/Agência Pará
Bruno Rolim afirma que o tempo médio de travessia de balsa do porto à cidade era de 20 minutos, mas que a seca aumentou o tempo em praticamente uma hora.
“Tinha balsa que ficou em cima do banco de areia, encalhada, e foi preciso fazer dragagem. A gente teve fazendo a vistoria e realmente a balsa tava encalhada numa área que não era normal nessa época do ano”, diz.
Situação de emergência
Desde o dia 19 de outubro, o superintendente no Pará do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Benitah Batista, declarou situação de emergência em uma portaria publicada no Diário Oficial da União.
O objetivo era garantir o embarque de grãos e a locomoção dos moradores da região, que são transportados por embarcações.
De acordo com a portaria, o canal de travessia na hidrovia do rio Tapajós “está sendo afetado pela estiagem e pela vazante, comprometendo a navegabilidade e resultando em graves reflexos sociais e econômicos na região, que depende do transporte hidroviário”.
O g1 Pará entrou em contato com o Dnit solicitando informações do que foi feito pelo Departamento a partir da divulgação da portaria, mas a publicação desta reportagem não recebeu retorno.
Monitoramento constante
Para evitar prejuízos ou que embarcações encalhem em pontos críticos no rio Tapajós, empresas que fazem uso de Estações de Transbordo de Cargas no porto de Miritituba fazem um monitoramento constante no nível do rio.
Segundo Flávio Acatauassú, presidente da Associação dos Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazônica (Amport), as secas dos rios amazônicos impactam anualmente as operações de carga nos rios Madeira (AM) e no rio Tapajós (PA).
Flávio Acatauassú, presidente da Amport fala do monitoramento do nível do rio
“Para amenizar os problemas das baixas dos rios, a Amport tem intensificado o monitoramento da batimetria e da leitura de réguas para que a gente fique monitorando se o rio está subindo, descendo ou estabilizando. Felizmente o Tapajós está estabilizando”, diz.
O Ministério da Agricultura e Pecuária tem previsão que no fim da primeira quinzena de novembro as chuvas retornem, aumento do volume dos rios e a normalização da navegação.
A pasta tem ciência que até lá isso pode significar “perda de competitividade temporária”, mas diz que “isso não afetará significativamente as operações devido às previsões de chuva”.
O presidente da Amport explica que a partir do monitoramento das profundidades do rio é possível embarcar somente o volume de cargas necessário para poder passar nos pontos mais críticos. “Isso fez com que não tivéssemos interrupção da navegação”, disse.
Soja já escoada
O Mapa disse que a maior parte da soja destinada à exportação já foi escoada, com a expectativa de exportar mais de 100 milhões de toneladas em 2023, além de 15 milhões de toneladas de farelo de soja.
Produção de soja
Divulgação/Aiba
“Embora a seca tenha sido um pouco mais intensa este ano, não prejudicou substancialmente o escoamento de grãos, uma vez que a maior parte da soja já foi transportada e o milho está em meio ao processo de escoamento”, informou o ministério.
O Ministério da Agricultura explicou que em situações como a seca desse ano, algumas cargas podem mudar de rota, deixando de passar pelos postos do Norte do país e passando por rotas no Sul e Sudeste, como Santos e Paranaguá.
Fenômeno El Niño
O fenômeno El Niño, que tem aquecido as águas do Atlântico Norte e do Pacífico Sul, próximo ao litoral do Peru, tem contribuído para o período de seca na região Amazônica e o atraso das chuvas.
Os rios da região apresentam uma vazão naturalmente maior do que a reposição de água proveniente das chuvas.
Isso ocorre porque a evaporação das nuvens impede que elas cheguem à região Amazônica e aos Andes, onde cerca de um sétimo dos rios se encontra. Como resultado, a seca na Amazônia ocidental tem aumentado.
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