E a fatura? Ela sempre chega

 
Inevitavelmente a fatura vem – Foto: Getty Images/iStockphoto/ND
Caro (a) leitor (a),
Você que acompanha esta coluna já sabe: a inspiração vem nos momentos mais inusitados. Hoje, por sorte, eu estava com meu notebook no voo de volta para casa — e cá estou, escrevendo, enquanto o avião corta o céu em câmera lenta.
Sim, estou voltando das férias, mais leve por fora, mas pensativa por dentro. E já que estamos aqui entre confidências, deixa eu te contar: voo diurno, para mim, é quase uma maratona de paciência. Você acorda cedo, chega cedo, embarca nem tão cedo assim, almoça às 10h30 (isso mesmo!), assiste a filmes nem tão atuais, joga paciência — ironicamente — e come tudo o que a comissária oferece como se aquilo fosse te salvar do tédio. E o tempo? Imóvel.

Mas foi nesse tempo suspenso, nessa bolha entre dois mundos, que a ideia do texto me encontrou. E ela veio como um susto com trilha sonora de filme de suspense: a fatura.
Não, não estou falando da fatura do cartão pós-viagem (ainda). Estou falando da outra, aquela que a vida envia. Aquela que chega sem aviso, mas invariavelmente chega.
Todo mundo tem seu momento de acerto de contas. Um olhar para trás, para as decisões tomadas, para os erros cometidos e, principalmente, para as pessoas que talvez tenhamos ferido no caminho — às vezes sem perceber. O avião cheio é um cenário perfeito para essa contemplação. Gente tão diferente reunida num mesmo destino e, ainda assim, com tantas histórias paralelas acontecendo ao mesmo tempo.
Olho ao lado e vejo um casal de idosos nas poltronas do meio, com seus travesseirinhos de pescoço, assistindo a filmes diferentes. Ele é gentil com ela — oferece o lanche primeiro, ajeita a manta. Será que eles já erraram com alguém? Ou será que são mesmo esse retrato de doçura que minha mente romântica projetou? Julgar o livro pela capa pode ser injusto — mas inevitável.
E então me pego pensando: eu mesma já machuquei pessoas. Talvez na época não soubesse, talvez soubesse e só não estivesse pronta para lidar com isso. Mas com o tempo — e um bocado de coragem — aprendi a pedir desculpas. O pedido de desculpa, aliás, é um gesto curioso: você admite o erro e joga para o outro a escolha de aceitar ou não. A sua parte, você fez. E isso traz certa leveza. Porque, sejamos honestos, difícil mesmo é nunca errar.
A fatura da vida vem. E às vezes você nem sabe o que está pagando. Já parou pra pensar que, assim como na fatura do cartão, a gente devia conferir mais de perto os nossos débitos emocionais?
A tal “lei do retorno”, essa sim, não falha. Pode vir disfarçada de perda, tristeza, solidão ou de um daqueles dias que a gente não entende o porquê de estar tão pesado. Mas vem. E talvez seja só a vida te cobrando por algo lá atrás que ficou sem acerto.
Como anda a sua fatura? Você tem muitos débitos pendentes? Já pensou em começar a colocar as contas da vida em dia?
Meu pai sempre diz: “A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.”Que você plante boas sementes.

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