Integrante do núcleo 2, Silvinei Vasques se tornou réu por golpe de Estado no STF em abril – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Em depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal) na segunda-feira (19), testemunhas detalharam o papel da PRF (Polícia Rodoviária Federal) na suposta tentativa de golpe de Estado em 2022. O ex-diretor geral, Silvinei Vasques, estaria diretamente envolvido.
Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador de inteligência da PRF, afirmou que Silvinei Vasques cobrou fotos da blitz no dia do segundo turno das eleições presidenciais. A operação teria por objetivo atrasar eleitores e obstruir o processo eleitoral para favorecer o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“O DG (diretor-geral) cobrou fotos das abordagens dos ônibus aos superintendentes. Eu era muito crítico à gestão do Vasques, porque ele estava muito próximo do ex-presidente e vinculando a imagem da corporação ao ex-presidente”, disse Alcântara ao STF.
“Eu ouvi que era ordem do DG esse policiamento direcionado. Foram as nuances que fui juntando e cheguei a essa conclusão. Ele estava fazendo uma polícia de governo, não de Estado. Isso era muito ruim para a PRF”, completou.
STF começou a ouvir testemunhas de acusação do julgamento de Bolsonaro e outros sete aliados na segunda-feira (19) – Foto: Antonio Augusto/STF
Segundo o servidor, a orientação da chefia era para a PRF “tomar um lado”, por determinação do então diretor-geral, Silvinei Vasques.
Vasques integra o núcleo 2 da denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) e se tornou réu por golpe de Estado em 22 de abril no STF, ao lado de outros cinco acusados. Apesar da ação penal, ele segue no cargo de secretário municipal de São José, na Grande Florianópolis.
PRF teria feito batidas em zonas ‘pró-Lula’ nas eleições de 2022
Clebson Ferreira de Paula Vieira, ex-analista da Coordenação-Geral de Inteligência do MJSP (Ministério da Justiça e Segurança Pública), afirmou ter recebido encomendas de estudos sobre a distribuição de agentes da PRF, às vésperas do segundo turno.
PRF abordou ônibus e vans com destino ao Nordeste que tinham como origem os estados de Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – Foto: Divulgação/PRF/ND
O policiamento seria direcionado a redutos eleitorais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo o servidor, as ordens partiram da então secretária de Segurança Pública do MJSP, Marília Ferreira de Alencar, que integra o núcleo 2 da suposta trama golpista com Silvinei Vasques.
“Recebi duas demandas, que passaram direto dela para mim. A primeira foi a análise de dados de concentração de votos acima de 75%, tanto para Lula quanto para Bolsonaro. Solicitou para mim que eu fizesse algumas impressões e algumas planilhas. A segunda foi a distribuição da Polícia Rodoviária Federal, um painel para possível tomada de decisão”, disse Vieira.
Ex-secretária de Segurança Pública, Marília Ferreira de Alencar, teria solicitado mapeamento de zonas “pró-Lula” – Foto: Divulgação/ND
Marília Ferreira de Alencar também teria encomendado uma análise sobre possíveis correlações entre votos em Lula e áreas dominadas pela facção criminosa Comando Vermelho.
“Foi pedida uma análise do seguinte aspecto: cruzar todas as urnas em territórios sob o Comando Vermelho para cruzar e ver se havia alguma correlação ou causalidade. O resultado foi inconclusivo”, lembrou a testemunha.
Sob Silvinei Vasques, PRF pode ter obstruído as eleições de 2022
Um inquérito da Polícia Federal investiga se a PRF foi usada para interferir na disputa eleitoral em 2022. Sob direção de Silvinei Vasques, aliado de Bolsonaro, a corporação realizou ao menos 560 operações durante o segundo turno.
As abordagens se concentraram sobretudo no Nordeste, onde Lula costuma ter mais votos. Entre 28 e 30 de outubro de 2022, 2.185 ônibus foram fiscalizados em estradas da região.
Segundo relatório do Ministério da Justiça, o número é mais que o dobro de operações semelhantes no Centro-Oeste (893), quatro vezes mais que no Sudeste e sete vezes mais do que na região Norte.
Defesa de Silvinei Vasques diz que não há evidências de que a PRF agiu para prejudicar eleitores – Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado
Em defesa apresentada ao STF em março deste ano, Silvinei Vasques alegou que as ações da PRF no segundo turno das eleições seguiram trâmites normais.
O réu ressaltou que o plano de trabalho teve como base demandas locais reportadas pelas delegacias da corporação. Dessa forma, a construção do planejamento operacional teria se dado de baixo para cima e não de cima para baixo
“Os locais de atuação das equipes da PRF no segundo turno foram apontados pelas delegacias da PRF em todo o país (aproximadamente 150 delegacias) e ratificado pelos chefes das seções de operações das superintendências, com base em dados estatísticos de criminalidade, de segurança viária, pedidos de apoio de outros órgãos, necessidades e peculiaridades locais”, argumentou a defesa.
Com informações do Estadão Conteúdo