Antonio Veronese: Arte conceitual em pauta na Rádio França Internacional

Antonio Veronese: Arte conceitual em pauta na Rádio França InternacionalAntonio Veronese

Colunista do GPS|Brasília, o pintor e escritor ítalo-brasileiro Antonio Veronese deu uma entrevista à Rádio França Internacional, depois de suas críticas às bienais Whitney e de São Paulo (2002). Confira, na íntegra, a conversa entre o artista e a emissora:

Rádio France: Você, quando critica as bienais do Whitney e de São Paulo, não está negando aos artistas conceituais o direito de expor seus trabalhos? Isso não é antidemocrático? Antonio Veronese: Eu não nego a ninguém o direito à exibição. Só acho que essas instalações deveriam estar na Disneyworld e não nos museus. São objetos para o divertimento e a interação, da mesma forma que um boliche ou stand de tiro-ao-alvo.

RF: que gerou a sua reação encolerizada no Whitney? AV: Não foi uma reação encolerizada. Foi uma reação natural de quem se sentiu ludibriado tendo que pagar para ter acesso a um amontoado de “facilidades”. Os “autores” destes farsismos se trancam no banheiro e riem de nós. O que fazem é terrorismo estético. Eles sabem que não têm nenhum valor -eles estão conscientes disso!- mas contam com a cumplicidade de curadores e com a covardia da crítica.

RF: Você chama a esses artistas de filhos espúrios de Duchamp. Por quê? AV: A criação artística é produto de duas experiências: uma histórica e outra pessoal. O artista tem que conhecer a Arte que o antecedeu, mas precisa também da segunda experiência, a pessoal, fruto do trabalho contínuo, do lento avançar naquilo em que trabalha. Cezanne, aos 64 anos já havia parido o modernismo, mas reclamava que ainda não havia conseguido ir até o fim em sua busca. O caminho é longo e exige paciência e dedicação. Esse pessoal das instalações é culto, conhece a História, mas tenta dar uma rasteira na segunda exigência, a da experiência pessoal. Socorre-se para isso de conceitos que serviram em outras situações mas que, no caso deles, não passa de malandragem. O Urinol virado por Duchanp foi uma consequência da sua busca pessoal, num contexto particular e específico. Mas defender que o urinol possa ser manipulado indefinitivamente é encenar a nossa própria decadência. Por isso acho que os conceitualistas são filhos espúrios de Duchamp.

RF: Você não está, com essa tese, restringindo a manifestação artística à pintura e à escultura? Que diferença tem essa sua crítica da que sofreram os impressionistas no final do século XIX? AV: A Arte é um oficio do Homem , ela não é espontânea na natureza. É produto da interferência humana, que não pode ser supérflua ou presunçosa. Victor Hugo dizia que a obra de arte é uma variedade do milagre. Para Malraux os artistas não são copistas de Deus , mas seus rivais. A arte contemporânea quer socializar o direito de produzir arte, antes restrito aos artistas! O que produz é facilmente copiável, diferentemente de um retrato de Rembrandt ou das maçãs de Cezanne. Para mim comparar a minha crítica às que sofreram o impressionismo e o modernismo é um exagero. Uma vez eu `incorporei” minha bota de couro a uma instalação do Tunga no Whitney do Soho em Nova York. Só fui buscá-la no dia seguinte. E ela estava lá, no mesmo lugar em que a deixei. Ninguém se deu conta de que, por 24 horas, eu havia me tornado coautor da instalação. Isso seria impossível com uma tela de Bacon ou de Lucien Freud. A crítica foi , durante muitas vezes na História, preconceituosa e totalitária. Mas questionar meu direito de exercê-la agora é também uma forma de totalitarismo. Para mim, há mais humanidade em uma simples aquarela de Egon Schiele do que em toda a Bienal de São Paulo reunida. A Arte precisa do espanto, mas só os idiotas se espantam com o ordinário.

Antonio Veronese: Arte conceitual em pauta na Rádio França Internacional
*Antonio Veronese, pintor ítalo-brasileiro, é autor de obras como Tensão no Campo ( Congresso Nacional); Just Kids (UNICEF), Famine (FAO, Roma) e Save the Children (símbolo dos cinquenta anos das Nações Unidas). Com oitenta exposições individuais em nove diferentes países, Veronese é considerado pela crítica francesa como “um dos dez pintores vivos que já deixaram seus rastros na história da Arte”.

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