Luciano Martins conciliar o tempo de criação com ações sociais – Foto: Germano Rorato/ND
Poucos são os artistas que ostentam a visibilidade e a projeção de Luciano Martins, que tem obras nas mãos de colecionadores, galeristas, instituições (públicas ou não) e de milhares de pessoas que admiram seus traços e cores.
Ao mesmo tempo, ele se tornou referência em ações de caráter social, porque apoia projetos de inclusão, sustentabilidade e mitigação do sofrimento em hospitais com crianças portadoras de câncer, por exemplo.
Ações sociais de Luciano Martins
A essa altura, 25 anos após abandonar a publicidade e mergulhar no mundo das artes, ele luta para conciliar o tempo de criação com as horas despendidas em atender demandas de escolas, Apaes e outras entidades que ajuda sem almejar qualquer ganho com isso.
A grande capilaridade de sua arte, que parece estar em todos os lugares, deu a Luciano Martins a condição de colocar sua assinatura em obras destinadas à benemerência, que chegam de graça a entidades necessitadas de ajuda.
Luciano Martins realiza ações sociais em diversas entidades – Foto: Germano Rorato/ND
Luciano Martins vê a arte como fator de protagonismo e de transformação da sociedade e, coerente com este princípio, pensa em como fazer seu trabalho tornar mais fáceis as ações da Pastoral da Criança, do Hospital Infantil Joana de Gusmão, do Instituto Pe. Vilson Groh, da Amucc (Amor e União Contra o Câncer), do Floripa Sustentável, do Instituto Guga Kuerten, de A Luz do Teu Sorriso (que atende crianças com fissura labiopalatina) e até da ONU (Organização das Nações Unidas).
O lúdico e o colorido vibrante que estão nas telas, nas peças pequenas e baratas (chaveirinhos, canecas), nas camisetas e produtos licenciados são perfeitos para aproximar o artista de seu público, seja ele formado por adultos que se encantam com o tom sempre otimista de suas obras, seja de alunos das séries iniciais que têm o primeiro contato com a arte e, ainda, as crianças que dependem de amparo por causa de problemas de saúde, abandono ou em situação de vulnerabilidade social.
Quando recria obras famosas de Portinari, Tarsila do Amaral e Frida Khalo, permite que as novas gerações conheçam grandes mestres da pintura.
Obras de Luciano Martins tentam reduzir o sofrimento de pessoa em UTIs – Foto: Germano Rorato/ND
Quando passa ao largo de museus e trabalha junto a UTIs de hospitais, não esnoba a arte oficial, acadêmica, mas faz o que gosta, ou seja, frequentar lugares onde seu trabalho pode reduzir o sofrimento de quem não pediu para estar ali.
“Tenho parcerias com duas centenas de ONGs, entidades de cunho assistencial e empresas, e penso nas crianças que precisam de cuidados especiais”, afirma Luciano Martins.
“Não vendo para elas, mas elas são objeto de minhas preocupações. Acho que meu maior público são adultos com uma criança interior.”
Desde a infância, um vínculo com o desenho
A queda para o fazer artístico está na história da família de Luciano Martins. Uma referência importante é um tio-avô que ajudou a tornar a cidade de Póvoa do Varzim, no Norte de Portugal, quase tão importante quanto Lisboa na área das artes cênicas, com seu trabalho no teatro de rua.
Esse mesmo parente, já morador de Porto Alegre, ajudou a criar uma associação que defendia os direitos autorais dos artistas. Outro tio foi pintor e, nos momentos livres, Luciano e os primos trocavam o futebol pela confecção de gibis nos fins de semana.
Eram os tempos áureos do desenho animado, e Luciano alimentou o sonho de trabalhar para a Disney e Maurício de Souza, enquanto ia a teatros e cinemas e acompanhava a performance de parentes próximos que também se aventuravam pela sétima arte.
Do nada, os membros mirins do grupo familiar fizeram um jornal no bairro Menino Deus, na capital gaúcha, e tentaram abrir espaços em jornais impressos, sem sucesso. “Meu trabalho é figurativo porque vem do cartum”, explica ele.
Entre os personagens criados pelo artista estão as crianças do Five Kids Club, que nas suas aventuras descobrem como funciona o mundo ao buscarem a ajuda de médicos, artistas, bombeiros, cientistas e outros profissionais.
Destaca-se ainda a animação “Ana Bolinha”, série de 13 episódios vencedora do Edital Catarinense de Cinema 2020 e voltada para crianças de três a cinco anos, feita em parceria com a produtora Cafundó e que estreou na TV Rá Tim Bum, também da Cultura.
A direção foi de Thiago Calçado, um dos ganhadores do Oscar de melhor animação de 2023 por fazer parte do longa “Pinóquio”.
Muitas marcas e mascotes que já entraram no dia a dia de crianças e adultos são igualmente de sua autoria.
A lista é infindável e inclui criações para o Educandário Santa Catarina, a Benefest, o Outubro Rosa, o Jaraguá Mais Saudável, o Vila Lagoa (da Conceição), o Hemosc, a Casa da Amizade, a Dawn um Abraço, o Massa Solidária e o Cow Parade Santa Catarina.
Marcas e Mascotes de Luciano Martins entram no dia a dia de crianças e adultos – Foto: Germano Rorato/ND
“Ele reproduz em suas obras todo amor e ternura que o mundo tanto precisa”.
Julio Sapollnick, crítico de arte e conselheiro do Moma, em Nova York
Telas de Luciano Martins na parede de celebridades e de grandes empresários
A esse leque de ações que lotam a sua agenda, Luciano Martins faz questão de mencionar críticos que reconhecem o valor artístico de seu ofício.
Um deles, Paulo Amaral, escreveu: “O artista voluntariou-se nos domínios da benemerência, emprestando sua assinatura a entidades necessitadas de ajuda, o que, pela natureza de seu trabalho, tem alcançado muitos resultados práticos e inquestionáveis em utilidade e importância”.
Artista visual, curador, diretor de museu e membro da Academia Brasileira de Belas Artes, Amaral louvou no artista “a linguagem lúdica que insiste em tomar de todo o lugar por vezes sisudo das galerias e dos museus.”
A carreira é repleta de premiações (como o Top de Marketing e o Empresa Cidadã da ADVB/SC, em 2021), homenagens e participações especiais (a exemplo do Miami River Art Fair, durante a Art Basel, em 2016).
Os números são sempre superlativos: os 15 mil estudantes que já visitaram a sua galeria desde 2007, as inúmeras atividades socioassistenciais, comunitárias, ambientais e empresariais, envolvendo sobretudo as crianças.
“Existe um artista pintando coisas amáveis no Sul do Brasil”.
Fernando Pastrano, do jornal El País (Espanha)
Ambientes adesivados tornam mais livre o ambiente em hospitais, e campanhas de bem-estar animal complementam um conjunto de ações de voluntariado que “foram dando sentido ao meu trabalho”, como diz.
O efeito são as manifestações de reconhecimento, inclusive do Wall Street Journal, e o fato de ter obras nas paredes de Gisele Bündchen, Ivete Sangalo, grandes empresários, atores e diretores de televisão, além de centenas de famílias que fizeram questão de ser pintadas por ele, que constituem parte importante de sua receita financeira.